06/06/2018
Nos dias 07 a 10 de junho deste ano ocorrerá o VII Encontrão da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão, na comunidade camponesa Gostoso, em Aldeias Altas-MA, em que mais de 400 lideranças de povos indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, camponesas, pescadores, sertanejos, entre outras, se reunirão numa localidade em que o agronegócio ameaça 37 famílias que sobrevivem do trabalho na terra.
O primeiro grande encontro da Teia no ano de 2018 será realizado com o tema “Retomar nossas raízes, com luta e resistência defendendo o Bem-Viver”, em razão da gravidade das violações de direitos ocorridas nos últimos anos nas comunidades e pela total ausência de políticas públicas efetivas que atendam os ditames constitucionais de acesso à terra para o trabalho.
A Teia de Comunidades e Povos Tradicionais é uma articulação surgida das lutas populares no campo no Maranhão, que envolve centenas de comunidades e realiza encontros desde 2014 em territórios ameaçados por grupos empresariais, fazendeiros, grileiros de terra em situações agravadas ou mesmo ocasionadas pela atuação do Estado brasileiro.
A realização de tais encontros da Teia nos territórios ameaçados incrementam os processos de resistência e insurgência, pautados na autonomia política, fortalecendo a identidade coletiva e promovem ações diretas dos povos envolvidos no aprofundamento de modos de vida historicamente silenciados dos espaços formais de decisão política estatal. Segundo Kum’Tum Gamella, “essa é a coisa bonita no processo da Teia. Quando todas as comunidades se encontram, ninguém precisa dizer qual a comunidade que tem luta porque a Teia só vai para onde tem luta.”
As famílias camponesas de Gostoso sofrem há mais de uma década com ameaças de morte, destruição de roças e vêm de um histórico de despejos forçados realizadas pela Costa Pinto em outras localidades em que viveram, como Belém, Queimadas, Cocal, Montabarro, Buriti Corrente.
A empresa falida “Grupo Costa Pinto” é suposta proprietária de um latifúndio que se estende por Codó, Caxias, Aldeias Altas e Afonso Cunha, estimado em mais de 70 mil hectares. Começou suas atividades no Maranhão na década de 1970, tendo ido à falência nos anos 1990. Em 2005, o grupo empresarial falido arrendou uma área de 25 mil hectares por 18 anos para a TG Agropecuária. Em 2007, um trabalhador contratado pela TG Agropecuária morreu em função das condições degradantes de trabalho, segundo relatos de camponeses da região. O grupo Costa Pinto tornou-se uma das organizações que realiza uma brutal especulação imobiliária diretamente relacionada com a expansão do agronegócio.
Importante informar que o município de Aldeias Altas possui um dos mais baixos IDHs do país (IDH 0,513, de acordo com o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), estando na lista dos 100 municípios brasileiros com piores índices de desenvolvimento humano.
“Quanto mais sufocar o povo no campo, mais o povo será escravizado, vai morar na cidade num lote 10×30. Se a gente ceder a gente vai parar na cidade chorando miséria. Lugar bom é onde o povo produz seu alimento de qualidade” nos relata Claudio, uma das lideranças da comunidade de Gostoso.