
O Grupo de Pesquisa em Comunicação, Tecnologia e Economia (ETC), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), lançou dois novos e-books voltados à orientação na criação de comunidades colaborativas e práticas de curadoria, com foco na comunicação.
As publicações reúnem reflexões teóricas e experiências práticas acumuladas pelo grupo. As ferramentas desenvolvidas pelos pesquisadores referem-se ao fortalecimento de grupos de pessoas, coletivos ou organizações que se unem em rede com objetivos comuns, respeitando, contudo, as diferenças entre os membros. Além disso, apontam práticas de seleção e distribuição de conteúdos feitas com responsabilidade e a intenção de atender às demandas dos movimentos.
O lançamento ocorreu no dia 30 de junho, no CESCS Deodoro, em São Luís, e foi tema do programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor, que entrevistou as pesquisadoras Sylmara Durans e Isys Basola nesta quinta-feira (11).
(Veja entrevista na íntegra ao final desta matéria)

Conteúdos desenvolvidos
O primeiro protocolo, intitulado “Tecer, Rendar e Urdir – Protocolo para criação de redes e comunidades”, de Sylmara Durans e Ramon Bezerra, investiga como redes de colaboração podem se constituir a partir da diferença, combatendo a lógica das bolhas informacionais. Já o segundo, o “Protocolo de Curadoria”, assinado por Isys Basola, Vitor Hugo Guimarães e Ramon Bezerra Costa, funciona como um guia para organizar informações com propósito crítico e acessível.
Durante a entrevista, Sylmara destacou que a criação de redes não pode se basear apenas na identificação de semelhanças, mas precisa considerar as diferenças como força estruturante das comunidades. “Comunidade se constrói a partir da diferença. É no conflito, na troca entre distintos, que surgem soluções e inovação”, afirmou. O protocolo propõe caminhos para que coletivos fortaleçam ações conjuntas e se organizem a partir da escuta e da troca.
Isys Basola apresentou o protocolo de curadoria como um “mapa” — e não uma receita pronta — que permite a qualquer pessoa organizar sentidos e informações de maneira crítica. A pesquisadora explicou que a curadoria não se restringe aos museus ou grandes acervos: ela está presente no cotidiano, desde a seleção de conteúdos informativos até decisões pessoais. “O que nos guia é a necessidade. A curadoria hoje serve para nos ajudar a lidar com o excesso de informação e com as urgências dos tempos digitais”, afirmou.
As ferramentas são resultado de um processo coletivo de pesquisa e prática que envolveu alunos da graduação e da pós-graduação da UFMA, além de contar com financiamento da FAPEMA. Segundo as autoras, o trabalho é também uma resposta à realidade maranhense, marcada por desafios como o deserto de notícias e a fragilidade das redes de comunicação local. Os protocolos apontam alternativas sustentáveis e colaborativas de atuação.
Um dos aspectos mais poéticos do projeto está no próprio título do protocolo sobre comunidades. “Tecer, Rendar e Urdir” remete às práticas ancestrais das rendeiras, muitas vezes realizadas de forma coletiva, como metáfora para a construção de redes vivas e resistentes. “A gente já sabe fazer comunidade. Nosso povo já faz isso. A ciência precisa reconhecer e valorizar esses saberes”, afirmou Sylmara.
Ambos os protocolos estão disponíveis gratuitamente no site do grupo ETC. Para quem deseja se aprofundar nos bastidores do processo de criação e nas reflexões das pesquisadoras, a entrevista completa está disponível no programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor.