A morte de Wellington Brito, ocorrida no município de São Mateus, no último dia 28 de outubro, expõe a grave questão dos agrotóxicos no Maranhão. O caso revela os dramas que cercam a nefasta utilização desses venenos.
No final de setembro, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de São Mateus denunciou que no município maranhense estava ocorrendo a “destruição de pomares, plantios de feijão, milho, fava, abóbora, mandioca e melancia em decorrência do lançamento de agrotóxicos (veneno) por avião, que atingiu extensos campos agrícolas dos lavradores”.
A denúncia foi divulgada nas redes sociais por Diogo Cabral, advogado e assessor da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão (FETAEMA).
Comentando a situação em São Mateus, o advogado destacou que “as perdas na produção são inestimáveis, e até mesmo o lago que abastece dezenas de comunidades estaria poluído”. Ele também lembrou que “o Maranhão vive uma guerra química, e somente neste ano, pelo menos 197 comunidades foram atingidas por venenos lançados por aviões e drones”.
Luta pela vida
Um vídeo circulando nas redes sociais reforça a denúncia feita pelo Sindicato de São Mateus e divulgada pelo advogado. A filmagem foi realizada na comunidade onde vive Moisés Sousa do Carmo e sua família, em São Mateus.
(Confira abaixo, ao final deste texto, o vídeo com o depoimento de Moisés, publicado originalmente em uma rede social do advogado Diogo Cabral)
No vídeo, Moisés denuncia o uso de agrotóxicos na sua comunidade. Ele e sua família vivem da agricultura familiar e da pesca, atividades gravemente prejudicadas pelo veneno.
Para agravar a situação, Moisés é asmático e tem entrado em crise devido à pulverização de agrotóxicos.
Boletim de Ocorrência
Além de fazer o vídeo e procurar o sindicato, Moisés também foi à Delegacia de Polícia de São Mateus para relatar os problemas causados pela pulverização de agrotóxicos.
O boletim, registrado em 1º de outubro sob o nº 251419/2024, menciona os drones que pulverizam veneno na região. No documento, é descrita a situação enfrentada na terra onde Moisés vive, trabalha e produz para a subsistência de sua família.
(Veja abaixo o Boletim de Ocorrência feito por Moises)
Edmilson Costa, diretor da FETAEMA, confirmou que a Federação deu continuidade à denúncia do sindicato de São Mateus, oriunda da comunidade de Moisés, e informou o Ministério Público Federal sobre a questão.
O caso também seria levado à Comissão Estadual de Prevenção à Violência no Campo e na Cidade (Coecv).
Na porta da casa de Moisés
A situação na comunidade de Moisés, no entanto, antes de chegar a COECV, já resultou em mais uma tragédia, num Maranhão marcado por diversas outras tragédias provocadas por questões de terra.
No dia 28 de outubro, em um hospital na cidade de São Mateus, Wellington Brito faleceu em decorrência de um tiro ocorrido dois dias antes.
Ele foi baleado devido a um conflito envolvendo o uso de agrotóxicos. Wellington lidava com plantação de arroz. Ele também estaria atuando em uma terra arrendada, bem próximo à Morada Nova da Água Preta, a comunidade de Moisés.
Wellington faleceu em decorrência de um tiro que teria sido disparado pelo filho de Moisés. O disparo ocorreu na porta da casa de Moisés e sua família.
O autor do disparo, Wallem Oliveira do Carmo, teria agido para defender o pai, Moisés Sousa do Carmo, o mesmo que aparece no vídeo denunciando o uso de agrotóxicos na sua comunidade.
Dona Camélia dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de São Mateus, relatou que, no mesmo dia em que ocorreu o disparo, Moisés entrou em contato com ela pedindo mais uma vez ajuda, informando que a situação do conflito que ele tinha com Wellington, por conta de agrotóxicos, estava se agravando.
O filho de Moisés, o autor do disparo em Wellington, apresentou-se à Polícia, prestou depoimento ao lado do pai e ficou detido.
O Centro de Defesa dos Direitos do Povo – Padre Cláudio Bergamaschi também está acompanhando este caso ocorrido em São Mateus, que até o momento foi silenciado pela mídia oligárquica do Maranhão.
(Confira abaixo o vídeo com o depoimento de Moisés denunciando o ataque de agrotóxicos)
E muito triste essa situação, mais é uma realidade das nossas comunidades no Maranhão, as oportunidades nada fazer para ajuda os camponeses.