O Quilombo Guerreiro, localizado no município maranhense de Parnarama, segundo denúncias feitas pelos moradores da comunidade, tem sido fortemente impactado por desmatamento, incêndios no território, compras ilegais de lotes e envenenamento, devido ao avanço do agronegócio.
O Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em conjunto com outros movimentos, divulgaram vídeos de lideranças quilombolas relatando os problemas enfrentados em suas terras.
Em um desses vídeos, a liderança quilombola, Dona Marly Borges, fala sobre o drama das mais de 100 famílias que residem e trabalham no local.
O Jornal Tambor, na edição de terça-feira, 22 de outubro, entrevistou Dona Marly.
(Veja, ao final deste texto, a íntegra da entrevista com Dona Marly.)
De acordo com a liderança, sojicultores da região têm coagido alguns moradores do território para venderem suas terras. O objetivo é expandir suas áreas de produção. No relato, também são mencionadas outras violações e violências.
“Tem o envenenamento aéreo, a compra de lotes. Eles iludem as pessoas para tomarem os lotes e depois comprá-los. Eles manipulam alguns moradores para se voltarem contra a própria comunidade, gerando conflitos internos e destruindo tudo: águas, matas e babaçuais”, disse Dona Marly.
Indignada, a quilombola chamou a atenção do poder público, afirmando que a impunidade continua ganhando espaço e instigando mais violência contra a comunidade.
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Segundo ela, o processo de titulação do Quilombo Guerreiro permanece paralisado no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) há vários anos.
Dona Marly explicou que, “neste momento, só no leste maranhense, são mais de dez comunidades reivindicando a titulação de seus territórios junto ao INCRA”. E enfatizou: “Enquanto esperamos, somos ameaçados de morte em nossa própria terra.”
O outro lado
A Agência Tambor entrou em contato com o governo do estado e o INCRA para obter seus posicionamentos sobre a denúncia.
Segue a nota do governo do Maranhão:
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) informa que recebeu denúncia sobre possíveis atividades ilícitas de desmatamento e outros crimes ambientais na comunidade Guerreiro, que se encontra em área de monitoramento prioritário de desmatamento realizado por satélite. Uma equipe de fiscalização foi mobilizada para investigar as ocorrências e adotar as medidas necessárias para proteger o meio ambiente e os recursos naturais.
A legislação brasileira prevê punições severas para os responsáveis por crimes de desmatamento ilegal, incluindo multas, embargo de atividades e, em casos graves, responsabilização criminal. A Sema reafirma seu compromisso com a defesa do meio ambiente e a aplicação rigorosa da legislação, garantindo a proteção dos biomas e o uso sustentável dos recursos naturais.
Representantes da Secretaria de Estado da Igualdade Racial (Seir) participarão, nesta quarta-feira (23), a convite do INCRA e do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), de uma reunião com o Moquibom para discutir conflitos em territórios quilombolas. Na ocasião, serão recebidas demandas para encaminhamento à Comissão Estadual de Prevenção à Violência no Campo e na Cidade (COECV), que reúne representantes da sociedade civil e de órgãos do Estado que tratam de segurança pública, meio ambiente, direitos humanos, entre outros.
(Confira abaixo a edição do Jornal Tambor com a entrevista completa de Dona Marly.)