O Dia Nacional da Visibilidade Trans é celebrado no dia 29 de janeiro. A data é fruto da luta de movimentos por garantias de direitos da população trans e travesti e da denúncia contra a transfobia.
É um dia histórico no Brasil que marca a organização social das travestis e transexuais. Também celebra a vida e a (r) existência dessa população que historicamente teve seus direitos negados no país.
Apesar dos avanços de direitos conquistados por organizações e movimento, ainda hoje pessoas trans e travestis são vítimas de uma invisibilização e violências em diversos setores sociais e políticos.
Para falar sobre o tema, a Agência Tambor entrevistou a maranhense A Caique, jovem trans, artista, estudante de Teatro na Universidade Federal do Maranhão. Ela falou sobre sua vivência enquanto mulher trans e o combate à invisibilização de corpos trans.
Para A Caique são vários os fatores no meio social e familiar que contribuem para o processo de invisibilidade da pessoa trans.
“Inevitavelmente assumir quem somos é ter que lidar com diversos desafios. Os núcleos de violência como o erro dos pronomes, estruturas cisnormativas, diálogos que invisibiliza a existência trans, assédios, sexualização, julgamentos e ameaças ao andar na rua. Além de que ainda é complicado para meu núcleo familiar entender e me respeitar 100%. Diversos desafios que colaboram para uma luta diária de reafirmação, o que sinceramente cansa”, disse a estudante.
A violência sempre esteve presente no cotidiano de pessoas trans. A Caique ressaltou que isso afeta a sua existência. Segundo ela “o medo é constante, mas jamais iremos permitir isso, porque acima de tudo valorizamos quem somos”.
No cenário educacional, a situação não melhora. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) aponta que 70% das pessoas trans abandonam o ensino básico formal e não concluem o ensino médio. Apenas 0,02% chegam ao ensino superior.
O problema passa por questões financeiras, falta de apoio familiar, ausência de assistência nas instituições de ensino e o preconceito.
“Não temos as condições necessárias para bancar estudos, muitas famílias nem sequer dão suporte e muitas são negligenciadas em espaços públicos pela transfobia e o descaso cis de ler, informar, conviver em torno da nossa existência”, concluiu A Caique.
A artista chamou atenção para a urgência de melhoria e criação de políticas públicas para pessoas trans e travestis no Maranhão e no Brasil, para que de fato aconteçam mudanças significativas na vida da população transexual e travesti.
Dados
Em 2022, 131 pessoas trans foram mortas no Brasil. E outras 20 cometeram suicídio por conta da discriminação e do preconceito que sofriam. Os dados são de um levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).
Ainda segundo a pesquisa, dos 131 assassinatos, 130 foram cometidos contra mulheres transexuais. 76% das vítimas eram pretas ou pardas.
Pelo 14º ano seguido o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo, segundo o relatório da ANTRA.
É urgente a necessidade de ações e políticas que incluam a população transexual e travesti como sujeitos de direito, e não apenas números no quadro de violência ou de morte.
Sobre o 29 de janeiro
A data existe desde 2004, lembrando o dia em que travestis e transexuais foram ao Congresso Nacional reivindicar políticas de equidade e lançar a Campanha “Travesti e Respeito”. Quase duas décadas depois, essa população ainda luta por proteção social, e por direitos historicamente negados.