Dona Maria de Fátima está em tratamento para curar um câncer. O conflito de terra no quilombo impede seu tratamento. Ela tem 62 anos e está fazendo um tratamento de câncer. Sua comunidade quilombola não tem a posse da terra, não pode trabalhar, e isso está dificultando sua luta contra a doença.
Estamos falando de Dona Maria de Fátima Lima Souza, nascida e criada no Quilombo Cancela, uma comunidade centenária do município maranhense de São Benedito do Rio Preto, que hoje está passando fome.
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São vinte e quatro famílias em Cancela – incluindo a de Dona Maria de Fátima – que estão sendo impedidas de plantar, de colher o que já plantaram e de coletar o coco babaçu.
Francisca dos Santos, que vive no mesmo quilombo, diz que o tratamento de Dona Maria de Fátima está prejudicado porque ela não tem dinheiro para voltar ao médico e a comunidade não tem como ajudar no tratamento, nem mesmo contribuindo financeiramente com o transporte dela.
“O Bolsa Família ajuda, mas não é suficiente. Precisamos trabalhar, fazer nossa roça, além de colher o que nós plantamos”, diz Francisca.
Drama
Dona Maria de Fátima precisa retornar a São Luís no dia 16 de setembro para avaliar o tratamento.
Entretanto, ela necessita realizar uma ressonância, que custa R$ 1.400, além de exames preventivos. Ela deve retornar ao médico com os exames já realizados.
A família de Dona Maria de Fátima está tentando viabilizar os procedimentos pelo SUS, no Hospital Aldenora Belo. No entanto, antes disso, ela precisa conseguir o dinheiro da passagem para São Luís.
Além do câncer, Dona Maria enfrenta problemas de má circulação e precisa realizar uma cirurgia no pé. Sua família não tem condições de arcar com os custos, sendo que apenas a medicação custa R$ 50.
Conflito
Para garantir seu território, o Quilombo Cancela, onde vive Dona Maria de Fátima, está buscando sua certificação junto a Fundação Palmares.
A Agência Tambor entrou em contato com a advogada Carla Silva responsável pelo estudo antropológico do território.
Ela disse que “a equipe técnica fez o trabalho de campo realizando diversas entrevistas extensas, de escuta coletiva nas reuniões para organização do histórico”. Carla informou que “dessa forma, a equipe está providenciando a documentação necessária para além do histórico para enviar o requerimento de certificação pela Fundação Cultural Palmares”.
O município de São Benedito do Rio Preto, onde fica o Quilombo Cancela, faz parte de uma região que vem sendo invadida pelo agronegócio, que destrói tudo, devasta o meio ambiente e expulsa os povos e comunidades tradicionais de seus territórios.
O Quilombo Cancela está em litígio com um fazendeiro. Até o momento, a Justiça do Maranhão não agiu em favor da comunidade, impedindo-os de acessar seu território e de cuidar de suas roças. Eles dizem que o problema surgiu há dois anos.
José Hilton de Lima, irmão de Dona Maria de Fátima, fala sobre o enorme prejuízo com as roças. “Plantamos e não podemos colher. E se não colhermos, tudo vai se estragar”.
Hilton também comentou sobre a doença de Dona Maria de Fátima e a impossibilidade de tratamento, diante do drama social e financeiro da comunidade.
Os moradores do Quilombo Cancela relatam que o conflito gera uma situação de intimidação, com homens contratados para impedi-los de acessar a terra.
Esses homens impedem até mesmo a coleta do coco babaçu, uma atividade econômica tradicional das comunidades do Maranhão.
A comunidade de Cancela sobrevive também pela solidariedade do Movimento Quilombola da Região, que já fez doações de farinha, e pelo apoio dos Fóruns e Redes de Cidadania do Maranhão, que doaram arroz colhido de suas roças comunitárias.
Essa é a vida da comunidade de Dona Maria de Fátima Lima Souza, que aos 62 anos luta contra um câncer enquanto batalha pela mesma terra onde nasceram seus avós. Sim, os avós de Dona Maria de Fátima nasceram no território do Quilombo Cancela.
(O Jornal Tambor de quinta-feira (08/08), veiculado pelo You Tube, tentou fazer uma entrevista com Dona Maria de Fátima Lima Souza, José Hilton de Lima e Francisca dos Santos, mas a internet não ajudou. Em breve vamos viabilizar esta entrevista em nosso Jornal).
