A trágica realidade de algumas comunidades do Maranhão, em especial o Quilombo Cocalinho, no município de Parnarama, foi denunciada pela quilombola Raimunda Nonata da Silva Nepomuceno, na audiência pública “Impactos dos Agrotóxicos em povos e comunidades tradicionais do Cerrado”.
Essa audiência foi realizada no dia 1º de junho, na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). Nela, Raimunda fez um relato dos impactos negativos causados pelos agrotóxicos, que estão envenenando as comunidades tradicionais e destruindo a natureza.
“A saúde da nossa população está bastante afetada. Pessoas estão morrendo de câncer de pele. A pulverização de agrotóxicos feita por aviões está destruindo as nossas vidas, a natureza. Estamos bebendo água e comendo comidas contaminadas”, disse ela.
Raimunda também solicitou apoio dos deputados federais para reverter esse triste cenário. “Com veneno não temos água, não temos terra, não temos nada. Precisamos manter o nosso cerrado vivo, para que possamos sobreviver. Estamos perdendo tudo, as nossas plantações, as nossas vidas, as nossas caças”, desabafou.
No Território Quilombola de Cocalinho, no leste maranhense, na divisa com o Estado do Piauí, foram encontrados nove tipos de venenos na comunidade provenientes de pulverização de agrotóxicos.
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“A gente precisa se manter viva, se manter de pé. Continuar nessa luta. Eles (os produtores de soja) não têm pena, nem piedade de ninguém. Nós estamos passando e eles estão jogando veneno em nossas cabeças”, enfatizou Raimunda Nonata, ao pedir “socorro para a comunidade e não deixar o povo sofrendo”.
Segundo dados da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mais de 600 milhões de litros de agrotóxicos recaem sobre todas as vidas humanas anualmente no Brasil. Somente em 2018, 73,5% dos agroquímicos consumidos no país foram aplicados no Cerrado.
Esses produtos são utilizados ostensivamente nas lavouras, via pulverização terrestre e aérea, impactando negativamente no ar, nas plantações, nas águas, na terra e na biodiversidade e afetando povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.
A Audiência do dia 1º de junho foi fruto de uma mobilização de entidades e comunidades que atuam pela defesa das vidas no Cerrado, dentre elas, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Gente, é uma situação completamente absurda! As pessoas estão morrendo na nossa frente, as denúncias estão postas, reveladas, registradas, divulgadas… Como fazer para esses empresários do agronegócio entenderem que não há a mínima condição de se sustentarem num empreendimento que só traz morte aos brasileiros e à vida, representada pela natureza e tudo o que ela nós dá? Crianças morrendo, pessoas morrendo, animais, tudo envenenado! Câncer de pele! Problemas respiratórios, falta de ar! É difícil compreender que tudo isso seja feito de forma autorizada pelo Estado e que, ainda, as pessoas e empresários que estão a frente disso continuem a matar, e não há nenhum órgão de controle e policiamento que os faça parar! MAs não podemos desistir. Confesso tristeza no meu coração. Mas agente em que lutar pela vida.