O assunto passa pela realidade da Amazônia e do Cerrado brasileiro, pela invasão de territórios de povos e comunidades tradicionais, por assassinatos, ameaças de morte, fome, chuva de veneno, destruição de áreas que deveriam ser preservadas, contaminação das águas e do ar, doenças, conluio e omissão de diferentes agentes públicos.
Passa por Justiça Climática, um conceito que no Maranhão parece ter sido formulado em grego e até hoje nunca traduzido…
A questão está diretamente relacionada a barbárie que atinge o território maranhense, promovida pela mineração, agronegócio e outros empreendimentos que violam a vida no estado.
Estamos falando da “Roda de conversa: comunicação, direitos humanos e justiça climática”, ocorrida nos dias 15 e 16 de agosto, no Centro Cultural de Brasília.
A roda foi um espaço de escuta, troca de experiências e informações, para pensar a agenda da comunicação, relacionada a duas prioridades absolutas: diretos humanos e justiça climática.
A atividade foi promovida pelo Fundo Casa, em parceria com a Comissão Pastoral da Terra do Pará, Tapajós de Fato, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Rede Comuá.
Escuta permanente
Entre os participantes do evento estavam inúmeras organizações que atuam na Amazônia, no Cerrado ou com os temas em questão, além de representantes de embaixadas de outros países.
Num país e particularmente em regiões marcadas por pobreza, violência, concentração de riqueza e poder, o debate proposto é evidentemente fundamental. E não se esgota em dois dias.
Em uma das mesas onde estavam os organizadores, foi falado da “necessidade de uma escuta permanente”.
Rodrigo Montaldi, gestor de programas do Fundo Casa, afirmou que o encontro resultará em uma publicação, tratando dos “achados e possibilidades futuras”.
Segundo Rodrigo, a ideia foi “pensar a agenda da comunicação sobre o aspecto de proteção e defesa de pessoas que atuam junto aos direitos humanos e assuntos ambientais, além do combate à desinformação e defesa da democracia”.
Em defesa da vida
Sete organizações sociais do Maranhão estiveram participando deste encontro nacional. São elas Comissão Pastoral da Terra (CPT-MA), Pastoral da Pesca CPP-MA), Rede Justiça nos Trilhos, Amavida, Fórum Carajás, TV Quilombo e Agência Tambor.
A agente pastoral Marcia Palhano esteve representando a CPT maranhense. Ela acredita que o evento “teve como principal objetivo o desafio de trazer para a pauta central a Comunicação Popular; como uma das principais aliadas das lutas no campo e na cidade, na defesa da vida e na garantia dos direitos, fortalecendo a comunicação como direito e legítimo”.
Segundo a agente pastoral, o ponto provocado no evento “nos convoca a recolocar a Comunicação Popular como um instrumento estratégico de defesa da vida dos povos originários e das comunidades tradicionais, denunciando as graves violações de direitos, mas também como este espaço de incidência, para o fortalecimento dos direitos socioambientais no Brasil”.
Jornalismo pra quê?
A Agência Tambor levou uma mensagem enfatizando a importância fundamental da comunicações popular e comunitária, feita a partir da base. E questionou quais as funções da atividade jornalística.
O veículo de comunicação maranhense fez uma provocação, a partir da montagem de uma imagem, onde estavam juntos um bilionário britânico (morto recentemente num acidente de submarino, que pretendia visitar os escombros do Titanic) e do quilombola Edvaldo Pereira Rocha, agricultor familiar assassinado no ano passado no município de São João do Soter.
A conversa se encaminhou sobre a função do jornalismo. Falamos da necessidade de um jornalismo popular, que trata do interesse público, da realidade, a partir da desigualdade social. E criticamos o jornalismo mercantil, colonial, elitista, que faz da desgraça humana um entretenimento, num processo de naturalização da violência e da desigualdade.