No último dia 8 de agosto, Luís Rodrigues Alves, de 83 anos, morreu vítima de um conflito de terras no Maranhão. Morador da comunidade de São João/Tourada, no município de Magalhães de Almeida, ele faleceu devido às graves tensões geradas pela disputa por terras. Conhecido como Suêde, ele era hipertenso, tinha o coração grande e problemas no sistema nervoso.
De acordo com a família, que está profundamente sofrida e indignada, os médicos afirmaram que o estado emocional de Suêde, causado pelo conflito, foi determinante para o seu falecimento.
A morte de Suêde está ligada a fato ocorrido entre 20 e 22 de agosto, quando representantes de doze comunidades rurais do Maranhão, da região do Baixo Parnaíba, vindos de quatro municípios diferentes, foram a São Luís para denunciar as violências associadas à grilagem de terras. Elas exigem providências do poder público. São João/Tourada foi uma das comunidades representadas.
Povo unido
O grupo foi para a capital maranhense com o apoio da Diocese de Brejo, por meio do Programa de Assessoria Rural. As comunidades pertencem aos municípios de Magalhães de Almeida, São Bernardo, São Benedito e Buriti.
Os representantes das comunidades estiveram na Defensoria Pública do Estado, na Comissão Estadual de Prevenção à Violência no Campo e na Cidade (Coecv), conversaram com o deputado estadual Júlio Mendonça (PCdoB), foram ao Instituto de Terras do Maranhão (Iterma) e se encontraram com o Procurador Federal Alexandres Soares e com o desembargador Gervásio Protásio dos Santos Júnior.
As doze comunidades que participaram do grupo são: Cancela (São Benedito), Bacuri (São Benedito), São João/Tourada (Magalhães de Almeida), Brejinho (Magalhães de Almeida), Bicuíba (São Bernardo), São Benedito/Mata Velha (São Bernardo), Palmeiras (São Bernardo), Baixa Grande do Meio (São Bernardo), Madeira Cortada (São Bernardo), Cigana (São Bernardo), Prexede (São Benedito) e Carranca (Buriti).
A paciência acabou!
O problema central das doze comunidades do Baixo Parnaíba, que vieram para São Luís, é a posse da terra.
O grupo, apoiado pela Diocese de Brejo e acompanhado pelo Programa de Assessoria Rural, traz à tona um problema central do Maranhão. Os povos e comunidades tradicionais que vivem nas zonas rurais do Maranhão têm sido massacrados pela invasão de grileiros, muitos travestidos de agronegócio.
A Agência Tambor teve contato com as lideranças das doze comunidades do Baixo Parnaíba que vieram a São Luís. A impaciência é evidente.
Neste caso específico, mais do que medo, o que ficou claro para nós foi a indignação e o fim da paciência.
Chega!
As pessoas das comunidades não aguentam mais viver sob todo tipo de insegurança e de ameaça, dentro dos seus territórios, dentro de suas casas, onde vivem e trabalham com suas famílias.
As comunidades vivem há décadas nessas terras; em alguns casos, são comunidades centenárias.
Elas não querem mais viver sob a violência da fome, do desmatamento, da chuva de agrotóxicos, da pistolagem, das ameaças, dos processos, da tentativa de criminalização e todo tipo de insegurança e outras consequências decorrentes da grilagem de terras.
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A Agência Tambor vai acompanhar os desdobramentos da vinda das doze comunidades do Baixo Parnaíba que estiveram em São Luís, entre 20 e 22 de agosto.
O povo do Maranhão não pode continuar a morrer como Luís Rodrigues Alves, vítima de conflito fundiário.
Q a justiça seja feita,nossa família enlutada e demais moradores clamam por paz respeito e dignidade