Artistas populares do Coletivo da Mata estão denunciando o poder público municipal de São Luís. Segundo a denúncia, eles estariam sendo “vítimas de arbitrariedades”.
A questão passa pela expulsão os artistas de Casarão Santo Ângelo, onde eles expõem seus trabalhos há aproximadamente dez anos.
Neste local trabalham oito artesãos. Eles trabalham no Casarão que teria sido “abandonado pelo poder público”.
A prefeitura de São Luís vai revitalizar o local, transformando no que seria o Complexo do Trapiche. No entanto, os artistas disseram que estão sendo “excluídos”, porque não houve nenhum aviso prévio do poder público quanto a desocupação do local, nenhum tipo de diálogo.
Para falar sobre essa denúncia, o Jornal Tambor de quinta-feira (10/08), entrevistou César Peixinho e Oswaldo Abreu, integrantes do Coletivo da Mata.
César é artesão, luthier, músico, compositor, mestre de cultura popular, certificado pelo IPHAN. Oswaldo é músico percussionista, artesão, luthier, produtor cultural, compositor e professor de música.
(Veja, ao final deste texto, a íntegra do Jornal Tambor, com a entrevista completa de César Peixinho e Oswaldo Abreu)
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O Coletivo da Mata é formado por artistas plásticos, músicos e artesãos, que fazem um trabalho diretamente vinculado com a cultura popular maranhense.
De acordo com Oswaldo, a principal reivindicação do Coletivo é que o poder público garanta a realocação dos artistas para outro espaço, para que eles possam continuar com a produção dos seus trabalhos.
Os artesãos disseram que o Casarão já foi interditado pela Defesa Civil de São Luís. E além disso, a energia elétrica foi cortada do local, prejudicando o trabalho, já que estão impossibilitados de desenvolvê-los.
E isso também gera preocupação financeira para os artesãos que expõem naquele local. E Oswaldo fez o seguinte questionamento: “Se vão preservar um patrimônio, por que precisa destruir a gente? Queremos uma explicação do prefeito Eduardo Braide”.
Os artistas comentaram ainda que não houve nenhum diálogo do poder público municipal com o Coletivo. Para Peixinho, toda essa situação é “desumana”, porque além de tirarem o sustento desses fazedores culturais, desvalorizam e apagam a cultura local. “Precisamos de auxílio, não de exclusão”, ressaltou César Peixinho.
O outro lado
Procuramos a prefeitura de São Luís, para saber sobre o assunto. Segue abaixo o e-mail que recebemos da prefeitura.
A Fundação Municipal de Patrimônio Histórico (FUMPH) informa:
1. A Coordenação de Defesa Civil de São Luís compareceu ao local em 01/08/23 e constatou a situação de risco iminente de desabatamento das chaminés do Complexo Trapiche Santo Ângelo sobre o Galpão atualmente ocupado pelo recém-constituído Coletivo da Mata. Portanto, a providência adotada pelo Município foi de assegurar a integridade física das pessoas e solicitar a sua imediata desocupação.
2. O Complexo Trapiche Santo Ângelo é formado por um conjunto de 5 galpões, duas chaminés, áreas livres e edificações contemporâneas construídas irregularmente. Todo esse conjunto é de propriedade do Município desde o ano de 2007 e integra as áreas tombadas a nível estadual e federal e declarada pela Unesco como Patrimônio Mundial.
3. Pelo fato de ser um imóvel de propriedade do Município, a ocupação pelos artesãos é irregular sob o aspecto jurídico.
4. A SEMCAS compareceu ao local algumas vezes e constatou que os artesãos não residem no local, segundo declarações dos próprios prestadas à equipe da SEMCAS.
5. O projeto de Requalificação do Complexo Trapiche Santo Ângelo foi contratado pelo Município de São Luís ainda em 2017 e, no segundo semestre de 2018, foi realizada uma oficina com a comunidade vizinha ao Complexo, oportunidade na qual houve a participação de pelo menos um integrante do recém constituído Coletivo da Mata. Nessa oficina foi dado conhecimento aos participantes quanto à existência de um projeto em curso para intervenções no local.
6. Em função da situação de risco e da necessidade de desocupação de todos os imóveis do Complexo, a Prefeitura Municipal, proprietária do imóvel, solicitou o desligamento da energia elétrica de todo o Complexo.
Atenciosamente,
SECOM | Prefeitura de São Luís
(Confira abaixo a edição do Jornal Tambor, com a entrevista completa de César Peixinho e Oswaldo Abreu)