Da Agência Tambor
Por Danielle Louise
02/03/2021
Foto: Divulgação
O Brasil teve um aumento de casos e do número de mortos, por Covid-19, no início de 2021. No estado do Maranhão, a situação não é diferente, com o total de 219.632 infectados e 5.074 óbitos, de acordo com o boletim divulgado dia 01/03, pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-MA). Apesar disso, as subnotificações continuam altas e não é possível acompanhar o número real de contaminados e vítimas fatais no estado.
Segundo a médica infectologista, Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco, professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ao ser comparado estas informações fornecidas pela SES, com os dados de mortes por causas naturais, mapeados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), percebe-se como há um número considerável de óbitos em excesso, desde o início da pandemia.
O CONASS desenvolveu painel com uma linha do tempo, mostrando que só o Nordeste tem 82.849 mil mortes em excesso, no ano de 2020. O que representa 34% a mais de mortes esperadas naquele ano.
Mortes em excesso
O Inquérito Sorológico realizado pelo governo do Maranhão, em parceria com a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), com o objetivo de avaliar o cenário da pandemia, indicou que no período de 20 março até 08 agosto de 2020, cerca de 40,4% da população maranhense já havia sido infectada com o vírus SARS-CoV-2. Considerando os óbitos notificados, os autores consideraram baixa taxa de letalidade (proporção de mortes entre os casos) no estado.
Apesar destas informações divulgadas, a infectologista Maria dos Remédios destaca que a taxa de letalidade não é bom indicador, porque não representa a realidade, já que no Maranhão há muito subregistro e subnotificação de óbitos e de casos.
Naquela ocasião, o Maranhão tinha 3.154 mortes por Covid-19, em dados divulgados pela SES. Já no painel da CONASS, de pessoas que morreram por causas naturais, até aquela data de 8 de agosto de 2020, o número era de 9.733. Três vezes maior do que as informações dos boletins epidemiológicos do governo estadual.
De março a dezembro de 2020, o governo maranhense afirmava que o total de óbitos por Covid-19 no estado era de 4.500 pessoas. Enquanto a CONASS informava que, até aquele momento, havia um excesso de 12.916 de óbitos por causas naturais no Maranhão. Ou seja, além das 4.500, mais 8.416 mortes poderiam ter sido por Covid-19.
Maria dos Remédios explica que este número em excesso pode indicar que, possivelmente, certidões de óbitos de vítimas fatais, por conta de sequelas ou de complicações, podem não estar sendo apontadas como mortes por Covid.
Pacientes graves infectados com o vírus, podem desenvolver o que os especialistas chamam de “tempestade inflamatória” que pode levar a hiper-inflamação de outros órgãos, além do pulmão, como coração, rins, fígado e até causar Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Em todo o Nordeste o número de óbitos por coronavírus, mais o excesso de óbitos por mortes naturais, de março até dezembro de 2020, entre pessoas com 60 anos ou mais foi de 58.202 mil; 33% a mais que no ano anterior, 2019.
A infectologista aponta que as notificações de casos e mortes por coronavírus no estado estão sendo feitas de forma muito lenta. Para ela, “estamos deixando passar muitos dados”.
Novos casos
Os casos de Covid-19 no Maranhão também não estão sendo contabilizados de modo que seja possível saber como o vírus está atuando no estado. Observa-se o crescente número de internações nos hospitais das redes públicas e privadas em todo o Brasil e no estado maranhense, no início de 2021.
De acordo com os últimos dados divulgados pela SES, na Grande Ilha a taxa de ocupação de leitos em UTI é de 91,12%, enfermaria 70,43%; no município de Imperatriz a UTI está com taxa de 98,18% – antes da criação de novos leitos chegou a 100% – , enquanto na enfermaria 98,11%; e nas demais regiões a UTI está com 75% de taxa de ocupação e 43,06% em leitos clínicos, segundo o boletim divulgado dia 01/03.
No último final de semana do mês de fevereiro, o Maranhão registrou 40 mortes por Covid-19 em todo o estado. Número alto de registro, considerando que a tendência de 2020 era de baixas notificações de casos e de mortes aos finais de semana, por conta de alguns laboratórios operarem somente nos dias úteis.
A SES tem, constantemente, aumentado o número de leitos para atender a atual demanda. No entanto, o sistema de saúde está no limite. Em dez dias foram criados 41 leitos de UTI e mais 18 leitos clínicos, totalizando 376 leitos de UTI e 831 leitos clínicos em todo Estado. Entre maio e junho de 2020, o Maranhão chegou a ter mais de 400 leitos de UTI.
Na última semana, pacientes de Imperatriz foram transferidos para a capital maranhense por falta de leitos de internação no município.
De acordo com Maria dos Remédios, o período chuvoso no estado também pode contribuir na disseminação da Covid-19. “Porque durante o período chuvoso as pessoas tendem a ficar mais tempo em locais fechados, o que facilita a transmissão do SARS COV-2”, afirmou.
A especialista pontua que, enquanto a vacinação caminha de forma lenta, é necessário que se adote medidas mais restritivas para contenção do número de casos e mortes no Maranhão.
Além disso, a SES comunicou a confirmação de uma das novas variantes da Covid-19, no Maranhão. O primeiro caso da chamada P1, encontrado inicialmente no Amazonas, foi identificado em uma moradora do Paço do Lumiar.
Para a infectologista Maria dos Remédios, o comportamento do vírus no estado, como maior transmissão e casos de mais jovens internados nos hospitais, já indicava que a mutação estava em solo maranhense.