Quatro meses se passaram e o governo do Maranhão ainda não repôs a estátua de Iemanjá, que tem seu lugar na praia do Olho d’Água, em São Luís.
A imagem teve seu rosto destruído no dia 23 de julho, em um caso de racismo religioso de grande repercussão.
Chegamos ao mês da Consciência Negra e a pergunta que não quer calar: por que tanta demora?
A edificação do monumento foi resultado de uma negociação entre as lideranças de religiões de matriz africana com o poder público estadual.
A praia do Olho d´Agua, na capital maranhense, costuma ser utilizada para fazer oferendas à entidade.
Na ocasião da depredação, o crime de racismo foi divulgado inicialmente, nas redes sociais, pelo Pai de Santo Paulo de Aruanda.
Na mesma época, a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) lançou nota repudiando a violência.
A Sedihpop disse também, ainda em julho passado, que o caso seria investigado pela Secretaria de Segurança Pública e garantiu que o governo iria restaurar a imagem.
Existe um entendimento, inclusive, que após a restauração a imagem de Iemanjá seja negra, conforme a tradição.
Em 18 de agosto de 2023, o governo do estado retirou do local a estátua de Iemanjá para iniciar o processo de restauração. E agora? Cadê a estátua?
Cobrança ao governo
O pai de santo Nery de Oxum adiantou que representantes de religião de matrizes africanas devem fazer um ato e procurar os órgãos responsáveis para que cumpram o que foi acordado em diversas reuniões.
“Isso é um absurdo. Uma falta de respeito e de interesse. Nada foi feito!”, relatou o pai de santo.
A presidenta da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB/MA e também integrante da Comissão de Direitos Humanos da mesma OAB/MA, a advogada Caroline Caetano, que acompanhou os representantes de religião de matriz africana em diversos órgãos, acrescentou que tudo, até agora, ficou apenas em promessas.
“Tivemos várias reuniões com diversos órgãos do poder público. Ficou acertado a recuperação da imagem, o monitoramento e segurança naquele local, espaço sagrado para os povos e comunidade de terreiros”, disse Caroline.
A advogada enfatizou que “efetivamente não foram adotadas as medidas cabíveis, nem estabeleceram um prazo para que as tratativas acertadas sejam cumpridas”.
Na Delegacia de Crimes Raciais e no Ministério Público, adeptos e simpatizantes das religiões de matriz africana e afro-brasileira, entidades e coletivos entregaram uma representação para exigir das autoridades a investigação do caso e punição dos culpados.
O que diz o governo
A Agência Tambor entrou em contato com o governo de Carlos Brandão, para saber o motivo de tanta demora
Veja abaixo o que disse o poder público estadual:
“A Secretaria de Estado de Governo (Segov) informa que está em curso o processo de restauração da estátua de Iemanjá do Olho d’Água pelo artista plástico criador do monumento, que à época levou dois anos para ficar pronto.
Quanto às obras no local, ressalta que o setor de engenharia do órgão trabalha atualmente na readequação do projeto de reforma da praça que ficará no entorno da estátua, atendendo as demandas solicitadas por lideranças e comunidades das religiões de matriz africana.
A Segov destaca que as equipes técnicas do órgão estão empenhadas para a conclusão dos trabalhos o mais breve possível para que haja a devolução do monumento ao local com mais segurança, .a fim de que a comunidade possa fazer uso para os seus ritos e cultos”.