“A primeira coisa é levar a sério que o racismo mata. Em seguida devemos cobrar do Estado ações concretas para combater as violências decorrentes das diferentes formas de racismo”.
A colocação foi feita por Igor de Sousa ao falar, entre outras coisas, sobre o grave problema da violência no campo, promovida pelo agronegócio e que segue alastrada pelo Maranhão.
O Jornal Tambor de segunda-feira (02/10) entrevistou Igor. Ele é antropólogo, professor e tem pesquisas sobre violência antinegra e povos e comunidades tradicionais, em especial quebradeiras de coco babaçu.
A entrevista tratou dos casos de violência no campo, ataques a religiões de matriz africana e problemas socioambientais no Maranhão, relacionados a um evidente racismo estrutural.
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(Veja, ao final deste texto, a íntegra do Jornal Tambor, com a entrevista completa de Igor de Sousa)
O entrevistado lembrou que o Maranhão lidera, junto com Rondônia, o ranking de assassinatos por conflitos de terras, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Ele também enfatizou que somente este ano no Maranhão foram destruídas 35 casas de trabalhadores rurais, entre demolições e queimadas, segundo a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares – FETAEMA.
Sobre o papel do poder público, Igor diz que “existe uma subnotificação” e que o quadro de violência decorrente do racismo é ainda maior, já que as organizações da sociedade civil não conseguem alcançar todos os casos.
Igor evidencia que não existe um plano de governo no Maranhão para tratar dos problemas e que isso leva os povos e comunidades a “situação de extrema vulnerabilidade”. O professor destacou que não há nenhum tipo de ação do poder público que proteja as inúmeras vítimas.
Ao final, Igor falou ainda que diante da gravidade dos casos, hoje deve ser criada “uma força tarefa” para o enfrentamento dessa violência. E que essa estratégia “deve ser algo permanente”.
Sobre Igor de Sousa
Formado em Ciências Sociais na Universidade Estadual no Maranhão (UEMA), Igor fez mestrado e doutorado em Antropologia e Sociologia, o primeiro na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o segundo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Autor do livro Movimento Quilombola no Maranhão, atualmente Igor está no Rio de Janeiro, onde trabalha como pesquisador vinculado ao CPDA/UFRJ, o Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Recentemente, Igor ganhou o Prêmio de Tese Maria de Nazareth Baudel Wanderley, oferecido a cada dois anos pela Rede de Estudos Rurais.
A Rede é uma articulação nacional, constituída a partir de um investimento coletivo, feito por pessoas estudiosas das mais diferenciadas formações disciplinares e teóricas, interligadas pelo tema “rural” como campo de investigação.
(Confira abaixo a edição do Jornal Tambor, com a entrevista completa de Igor de Sousa)