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Iemanjá! Racismo religioso provoca grande reação em São Luís

Foto: Divulgação

Se o poder no Maranhão fosse menos conservador, já teríamos no estado mandato de parlamentares cassados por crime de racismo religioso.

Em relação ao monumento da Orixá Iemanjá, localizado na Praia do Olho D’Água, na cidade de São Luís, o crime ocorreu pela terceira vez. 

A imagem foi atacada novamente, nas primeiras horas de 23 de julho. O mês marcado como Julho das Pretas. Coincidência? É óbvio que não.

A capital maranhense tem sido marcada por crimes de racismo religioso. Nos últimos anos, diante do desbunde da extrema direita, terreiros foram atacados. A situação é inaceitável. E a sociedade não aceita.

Leia também: Mulheres negras reagem aos ataques a Iemanjá

A Lei para criminosos

Desde o crime, povos e comunidades de terreiro, além de lideranças religiosas de matriz africana e outras organizações sociais, uniram forças em torno de uma agenda, cobrando do poder público uma resposta imediata.

Na segunda-feira, 24 de julho, organizações como a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde-Renafro; Federação de Umbanda e Culto Afro do Maranhão; Fórum Estadual de Mulheres de Axé; Coletivo Dan Eji; Terreiro Nossa Senhora da Vitória; Ilê Axé Alagbede Olodumare; Tenda São Jorge Jardim de Oeira da Nação Fanti-Ashanti; Ilê Sogbosi Inã; Ilê Axé Akoro D´Ogum; Ile Ashe Yemowa Abê; e outras entidades protocolaram junto à delegacia de combate aos crimes raciais, agrários e de intolerância do Maranhão uma notícia crime.

A expectativa é que o caso seja elucidado e que se aponte os culpados pelo racismo religioso. 

O documento também expõe imagens de usuários nas redes sociais, que fizeram postagens com discursos de ódio em relação à quebra do monumento. As organizações solicitam que essas pessoas respondam pelos crimes que praticaram na Internet.

O delegado Agnaldo Timotéo informou que foi dada a abertura oficial da investigação. O principal movimento será a busca por câmeras e testemunhas que possam ter visto o crime, de 23 de julho. 

Foto: Divulgação

Indignação

Em nota, a comunidade religiosa do Terreiro Nossa Senhora da Vitória também manifestou sua indignação.

“A Praça de Iemanjá é fruto de uma luta do Terreiro Nossa Senhora da Vitória, que junto com as organizações dos povos de terreiro do Maranhão reivindicou ao governo do Estado a restauração da antiga imagem, que estava abandonada há décadas e a construção de uma praça que pudesse reunir os povos e comunidades tradicionais de matriz africana do Maranhão”, diz um trecho da nota assinada por Mãe Nonata de Oxum, Fundadora e Matriarca do Terreiro Nossa Senhora da Vitória.

A Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), Núcleo Maranhão, manifestou seu veemente repúdio em relação ao ataque racista praticado contra a imagem de Iemanjá.

“É um ataque a um dos únicos espaços construídos pelo poder público para dar visibilidade às religiões de matriz africana, demonstrando a continuidade dos ataques aos povos de terreiro que assolam o Maranhão nos últimos anos”, diz a nota da Renafro.

A Casa Fanti-Ashanti também lançou uma nota dizendo que “que atos como esse não são isolados e fazem parte de um contexto de manifestações de ódio e de racismo contras as religiões de matriz africana e seus adeptos”.

Foto: Divulgação

O texto diz ainda que a Casa “espera que as autoridades possam agir de forma célere para apurar o fato e responsabilizar os causadores do dano, além de reconstruir imediatamente a imagem”.

A Iyalorixa Jô Brandão, coordenadora do Coletivo DAN EJI, enfatizou que “a depredação da imagem de Iemanjá é um ataque às religiões de matriz africana. Iemanjá é uma referência de um orixá.” 

Ela completou que “não se trata apenas da depredação do patrimônio público. Não é apenas um ato de vandalismo. Além do que, estamos falando de uma imagem feminina. É comum nas violações de direitos, o rosto feminino é a primeira parte física agredida e violentada”.

Manifestações

Na terça-feira (25), os povos e comunidades de terreiro, além das lideranças religiosas de matriz africana, reuniram-se na Praça onde fica a estátua de Iemanjá. 

Repudiaram a ação racista ao monumento, enfatizando a importância e necessidade emergencial de políticas educacionais para combater e enfrentar os diversos tipos de racismo.

Na sexta-feira (28), as comunidades de terreiro fizeram mais um ato na Praça de Iemanjá, na Praia do Olho D’Água.

A manifestação foi para reforçar que as investigações sejam feitas urgentemente. Tanto da depredação, quanto dos discursos de ódio, que têm sido veiculados nas redes sociais contra religiões de matriz africana.

Foto: Divulgação

Resposta do Poder Público

O governo do Maranhão formou uma comissão com a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular (SEDIHPOP), a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA), a Secretaria de Estado de Governo do Maranhão, a Secretaria de Estado da Infraestrutura Maranhão, a Agência Estadual de Mobilidade Urbana e Serviços Públicos (MOB) e a Secretaria de Estado de Igualdade Racial (SEIR) para tratar sobre este caso de racismo religioso.

Os representantes do governo reuniram-se, na quarta-feira (26), com representantes de povos de religiões de matriz africana para dialogar soluções para o caso.

Socorro Guterres, secretária adjunta da Igualdade Racial disse que a Secretaria de Igualdade Racial “repudia veementemente esse ato, que foi criminoso e de manifestação violenta de racismo”. Ela também destacou que estes tipos de casos vêm acontecendo em vários lugares do Brasil. 

Em 2022, houve outros crimes de depredação no Maranhão. Foram ataques a terreiros, que demonstram o racismo a religiões de matriz africana em São Luís.

Durante a reunião foi encaminhado, pelos representantes do governo estadual, a recuperação da imagem, assim como a realização de ações para aumentar a segurança no local, como a instalação de sistema de videomonitoramento na Praça de Iemanjá, no Olho D’água.

Casos de racismo religiosos são cada dia mais comuns e é inaceitável que o Estado não responda com urgência e responsabilidade que o caso merece.

O Maranhão é um dos estados com a maior população negra do Brasil e segundo estado com maior número de povos quilombolas. A sociedade registrou que não aceitará que crimes de racismo saiam impunes.

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