Fonte: Giovana Kury/Agência Tambor
Há exatamente 40 anos, estudantes, professores e trabalhadores ocupavam as ruas de São Luís em uma semana que ficaria na história da capital maranhense. Do dia 14 a 22 de setembro de 1979, os 20 mil manifestantes da Greve da Meia-Passagem não se acovardaram diante da forte repressão policial: persistiram até assegurar o direito de pagar a metade do preço da passagem de ônibus que usufruímos até hoje.
Para conversar sobre o assunto, o jornalista e professor de comunicação social, Franklin Douglas, foi o entrevistado desta quarta-feira (18) na Rádio Tambor. Franklin juntou textos de algumas das principais lideranças da greve para publicar o livro intitulado ‘A meia-passagem em versões inteiras’, onde a história – desde a mobilização estudantil até a vitória sobre o governo.
A meia passagem de ônibus era uma lei municipal de São Luís desde 1950, mas até então nunca havia entrado em vigência de fato. Em 1979, após o então prefeito Mauro Fecury anunciar três aumentos consecutivos, a classe estudantil começou a se mobilizar. “Os alunos chegavam na UFMA e lá mesmo ficavam sabendo que o preço havia aumentado. Às vezes não tinham dinheiro nem para voltar”, conta o jornalista. Então, em plena época de ditadura militar, alunos de todos os cursos se uniram em assembleias para organizar as manifestações.
De início, os universitários fizeram atos no final de semana em feiras e bares para mobilizar a população. Porém, somente após os estudantes secundaristas se juntarem à causa, a manifestação ganhou peso. Logo na primeira manifestação, naquele 17 de setembro de 1979, “algo que poderia ser formado por mil universitários vira 5, 10 mil estudantes”, conta Franklin.
O enorme número de pessoas não impediu a Polícia Militar do governador da época, João Castelo, de reprimir violentamente o protesto. Segundo o jornalista, manifestantes foram presos sob a justificativa de “quererem implantar o comunismo”, embora não houvesse vestígios que ligassem a pauta da Greve a uma suposta revolução. “Não se pode dizer que houve aparelhamento. A própria igreja apoiou. O Padre Marcos Parcerini, inclusive, escondia na Igreja do São João [Centro] vários estudantes acusados de terrorismo”, exemplifica.
O que era para abafar o movimento acabou intensificando-o. A repressão policial do dia 17 mobilizou a classe trabalhadora, que se juntou à luta. Nos próximos três dias – 18, 19 e 20 -, os protestos ganham forças nos bairros e a cidade reage, fechando estabelecimentos para “se proteger” da manifestação. Somente no dia 22, a Prefeitura de São Luís publica o decreto que regulamenta a meia-passagem – direito usufruído pelos estudantes até os dias de hoje.
Repercussão
A Greve da Meia Passagem em São Luís teve grande repercussão no Brasil inteiro, e seus efeitos resistiram ao tempo. Nas eleições de 2008, 29 anos depois, o então candidato João Castelo voltou a ser questionado pela repressão policial da época; e é considerada uma das maiores manifestações que já aconteceram no Maranhão.
“Foram cerca de 20 a 25 mil pessoas em 1979, muito para a época. É como se fossem 100 mil em 2019”, diz Franklin. Com a enorme pressão, a greve se tornou insustentável e o Estado se viu na obrigação de ceder. Daí se tira a força da simbologia daquela semana de 1979: é um lembrete do grande poder que sempre teve – e tem – uma mobilização estudantil.