Luzenice Macedo
Luzenice Macedo Martins Co-gestora do Casa d’Arte Centro de Cultura [email protected]
Temos experimentado uma série de retrocessos nas políticas públicas no Brasil. Particularmente, não tenho dado conta do mau-caratismo de quem não reconhece isto. Para mim, que trabalho acompanhando e avaliando políticas públicas é, especialmente, penoso constatar isso diuturnamente.
Por aqui, hoje, abre-se mais uma janela para se mirar essa realidade. Por tudo que tenho observado e vivido, será mais um espaço de comunicação necessário e urgente porque independente!
Por isso, também ferramenta para alimentar os sonhos! Para seguirmos reafirmando nossos propósitos de construirmos sociedades mais justas e dignas para todos, todas e todes! Porque as janelas precisam nos ventilar as motivações, os novos projetos e os enfrentamentos para tanto!
Essa resiliência em que nos encontramos deve ter morada na cultura. Nosso lugar de memórias, símbolos, subjetividades, saberes e fazeres! Para que a ancestralidade que nos abraça seja a força motriz para nos mantermos vivos de corpo e de alma no tempo histórico-pandêmico.
É também sobre reafirmarmos a importância das políticas públicas de cultura serem integradas e sistêmicas, articuladas com as de segurança pública e de reordenamento urbano, a exemplo. Superando a violência dos sistemas político-econômicos sobre as sociedades periféricas e rurais, notadamente, mulheres e crianças, negras e empobrecidas.
Sobre darmos visibilidade e apoio, sob todas as formas, ao protagonismo de comunidades que mantém a cultura popular com suas tecnologias de cooperação centenárias! Resistindo em seus fazeres culturais para além do que o Estado consegue alcançar.
É sobre gritarmos juntos pelos direitos culturais como direito humano que assegura e fortalece nossas identidades culturais, também lastro para a integração necessária com as demais políticas. Defendendo e compreendendo a teia complexa de símbolos, signos, ideologias, saberes historicamente construídos, que nos sustentam enquanto sujeitos!
Sobre compreender as novas interterritorialidades, mediações e protagonistas permeados pelas novas mídias: os movimentos socioculturais, expressões e estilos nascidos em ambientes não-hierárquicos, que ressignificam as cooperações comunitárias, mas que contam com a força das múltiplas mídias, especialmente do audiovisual, como tem reiterado Ivana Bentes. Sobre descurtinar os territórios e grupos culturais de (r)existências, complexidades, ambiguidades, informalidades, de redes de criação para assegurar o devido fomento ao protagonismo das comunidades rurais e da periferia.
E, em decorrência disso, fortalecer modelos horizontais de relacionamento, o que encontra pleno abrigo nos modos de fazer cultural para que sejam emancipatórios e libertários. De um lado, o enfrentamento necessário para o desmonte em curso; de outro, a solidariedade necessária para re-existir a esse estado de coisas.
E para amplificar nosso manifesto na Conferência Popular de Cultura, resultado das mobilizações decorrentes da Lei Aldir Blanc: as culturas resistem, reúnem, revivem, revelam, mobilizam, dizem quem somos e o que queremos da vida.
Essa nova janela será também para nos dar abrigo em meio às vicissitudes porque “a vida do direito é a luta”: a luta e o sonho coletivos! É também assim nessa Ilha ao meio-norte do Brasil!