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O bê-á-bá do Brasil na Agência Tambor

Da Agência Tambor 
Por Emilio Azevedo*
29/09/21

Para algumas leitoras e leitores, talvez fosse mais fácil se eu tivesse escrito este artigo em grego. Falo pela dificuldade de despertar o interesse da rapaziada.

Mas me sinto na obrigação de começar dizendo que os democratas brasileiros deveriam considerar a possibilidade de fazer do nosso país uma república plurinacional. Hoje, na América do Sul, Bolívia, Equador e Chile têm discussões avançadas sobre sua diversidade de nações. E assim, dão passos à frente para enfrentar o fardo colonial.

Atualmente, no Brasil, temos vivas mais de 150 línguas indígenas. Você sabia? Quem trata disso com detalhes é a historiadora, antropóloga e linguista Ana Carla Bruno, professora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), com formação pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Ela é uma das pessoas que aborda esse assunto abafado pelo status quo e ignorado pela maioria.

Sabemos que o grande problema do Brasil é a desigualdade social. Ela é nossa maior mazela, maior violência, maior escândalo de corrupção. E se a luta democrática começa pelo enfrentamento dessa desigualdade, não é o caso de priorizar aquilo que está no começo do problema?

Sabemos que o atual padrão de desigualdade social se estabelece em nossa região a partir da invasão europeia (portuguesa), ocorrida no século XVI. Essa desigualdade avança com a escravidão, imposta pelos invasores (ladrões de terra, madeira e minério).

E temos hoje no Brasil, no governo federal, uma extrema-direita que faz apologia ao racismo, que desdenha dos direitos humanos, cultua o pelourinho (a tortura), aprofunda a velha exploração do trabalho e rejeita qualquer iniciativa comprometida com justiça social.

E se muita gente acha que “o Brasil está maluco”, nosso divã deve ser a história.

A partir de uma parceria bem-sucedida da Agência Tambor com a Associação Nacional de História – Seção Maranhão (ANPUH-MA), propomos um debate com o tema “Indígenas, quilombolas e a democracia no Brasil”. Será no dia 9 de outubro, às 18h, em nosso canal no YouTube.

Será o segundo debate que a Tambor promoverá com a ANPUH-MA, no programa História Viva, o fruto semanal da nossa parceria. No primeiro, trouxemos o economista João Pedro Stédile (MST), que conversou com a professora e historiadora Joelma Santos da Silva (atual presidenta da ANPUH-MA) e comigo. Com ele tratamos do tema “Questão agrária e (falta de) democracia no Brasil”.

Para este segundo debate, convidamos a deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR) e o deputado federal Bira do Pindaré (PSB-MA). Os dois conversarão com o professor e historiador Márcio Baima (ANPUH-MA) e com a arte-educadora, professora e comunicadora Rejane Galeno (Agência Tambor).

Joenia é uma advogada indígena, da comunidade Truaru da Cabeceira, no município de Boa Vista (Roraima), que atuou na demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol. Ela foi a primeira presidenta da Comissão dos Direitos dos Povos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e é a primeira deputada federal indígena da história do Brasil.

E Bira, nosso conterrâneo, é negro, advogado, de origem pobre, ligado ao movimento sindical rural e urbano, às pastorais sociais, vindo do movimento estudantil. Na atual Câmara Federal, ele foi um dos articuladores da Frente Parlamentar Quilombola, tornando-se seu primeiro presidente.

Chamamos essa dupla de parlamentares, que atuam em Brasília junto a forças minoritárias, por que consideramos o parlamento muito importante, mesmo sabendo que ele sempre esteve e está, majoritariamente, a serviço da elite.

Se a democracia só tem chance com trabalho de formação, organização popular e muita mobilização e participação social, tudo isso tem que ter eco nas instituições, nos diferentes poderes da república.

Termino nosso papo lembrando que comecei falando do Brasil se tornar uma república plurinacional. Hoje, ainda temos um longo caminho a seguir.

A realidade brasileira passa atualmente por um confronto político brutal entre um bloco de extrema-direita fascista, contra diferentes forças democráticas e heterogêneas. Esse confronto, quando se expressa sem filtros, em conflitos sociais nas periferias urbanas e áreas rurais, comumente acaba em morte. É bala, poluição, fome…

Parece evidente que, junto à questão agrária, as forças democráticas devem ter a pauta indígena e quilombola como prioridade. Ela está na origem dos nossos maiores problemas.

Por isso, pra que se possa agir, é importante debater, trocar experiências, informações. E assim, vamos seguir somando forças para avançar na complexa luta por democracia e justiça social.

*Emilio Azevedo é jornalista, da coordenação da Agência Tambor, veículo de comunicação de São Luís do Maranhão.

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