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Sexo, drogas & vaquejada na grande metrópole nacional brasileira

Frederico Lago Burnett*

Regiões de Influência das Cidades, REGIC, são estudos de Geografia Econômica do IBGE que classificam periodicamente as 5.571 cidades brasileiras conforme suas capacidades de alcance e atração espacial sobre o país, ordenando-as em uma hierarquia de cinco níveis que traduzem o poder de produzir mais poder: metrópoles, capitais regionais, centros regionais, centros de zona e centros locais, algumas com subdivisões entre si. São Luís, por exemplo, apesar dos esforços discursivos locais, não se enquadra como metrópole, mas, sim, como capital regional A, enquanto Imperatriz ali está como capital regional C. Igualmente, as 15 metrópoles brasileiras, conforme o estudo do IBGE, também se subdividem em três estratos: 12 Metrópoles, duas Metrópoles Nacionais — Brasília e Rio de Janeiro — e a Grande Metrópole Nacional, a poderosa São Paulo, síntese e sede do poder político, econômico e cultural que paira sobre nossas vidas, tirando disso muito proveito.

Mantendo a tradição de mês revelador de certas almas nacionais, agosto mostrou toda a capacidade de atrair & armar negócios da Pauliceia desvairada, a exceder limites e pular cercas, sempre noticiados pelo mais influente jornal do país, fonte desta crônica. Na ordem proposta no título e sob o som rebelde de Rita Lee & Titãs, seguem as lucrativa$ apropriações$ paulista$ das utopias de 1968.

Sexo é negócio? Na megalópole das oportunidades, a prática do “velho namoro por interesse” se tornou um promissor negócio com dispendiosos intermediários que gerenciam o “patrocínio” de relações privadas entre “um homem maduro e já bem-sucedido de um lado e uma jovem atraente e ambiciosa do outro.” Comemorando “dez anos de existência e 16 milhões de inscritos”, uma festa para sócios, com ingresso a 10 mil reais, juntou sugar daddies da grande metrópole nacional e sugar babies vindas de todo o país, comprovando a centralidade nacional do ouro de Sampa dada pela REGIC, pois o “convescote VIP aconteceu…a poucos passos da meca do dinheiro paulistano, a avenida Faria Lima.” Retratando caras e coroas da nova moeda, a reportagem contabiliza idades, estudos, profissão, renda, mesadas e presentes que intermediam as relações daqueles que, sem fantasia, celebram trocas de interesses na busca de mel.

Drogas é Capital? Bem antes da comemoração dos sugar, transações paulistas já aconteciam, mas em torno de outro tipo de açúcar e bem mais discretas, envolvendo o país em bilionárias articulações nacionais engendradas desde o cuore da São Paulo S.A., provando a eficiência de sua rede nacional de influências e de seu capitalismo sem preconceito que, longe de excluir, almeja abarcar toda grana possível em suas malhas. Com movimentos à montante, financeiras e bancos crème de la crème assessoravam o mundo do tráfico em “tenebrosas transações” à jusante, expandindo sonegação de impostos e lavagem de dinheiro sujo através do imenso mercado de combustíveis do país, graças à fintechs com expertise em burlar o controle de operações financeiras.

Vaquejada é política? And last, but not least, pois aqui se trata de um “comité político” ampliado, megagestor das conexões de poder pelo país afora. Como sonhos e rebeliões urbanas de jovens músicos dos anos 80 foram atropelados pela hegemonia rural do agronegócio, trocamos o rock-in-roll pelo sertanejo e a SP de Barretos se fez centro de negociações políticas para passar a boiada. Ali, sempre no mês de março, o conservadorismo popular consagra ou condena pretendentes a comandar a geleia geral do individualismo possessivo em vigor, um termômetro nutrido com esterco em estado natural que, sob o poder da propaganda goebbeliana, busca eternizar os flautistas de Hamelin que assombram SP e, pela força da influência da Grande Metrópole Nacional, pretende cooptar todo o país para a auri sacra fames, custe o que custar, incluindo aí a soberania nacional…

*Frederico Lago Burnett é Arquiteto Urbanista, Professor Uema

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