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Racismo religioso atinge festejo de matriz africana em Bacabal

Mais um episódio de intolerância religiosa foi registrado em Bacabal (MA), onde o cartaz que anunciava o tradicional festejo de São Raimundo Nonato, organizado por um terreiro de Umbanda da cidade, foi novamente destruído por criminosos. O ato causou revolta entre as lideranças religiosas e acendeu o alerta sobre o racismo religioso presente na região.

Segundo Mãe Ângela, uma das principais lideranças do Terreiro São Raimundo Nonato, o mesmo tipo de vandalismo já havia ocorrido no ano passado, mas foi ignorado. Este ano, após novo ataque ao cartaz – que estava instalado em uma das principais avenidas da cidade –, ela decidiu não se calar. “Ano passado a gente pensou que pudesse ter sido o vento, mas esse ano vimos que foi mesmo crime. E as mensagens que recebemos são cheias de ódio, dizendo até que era para ter queimado tudo”, relatou emocionada ao programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor.

[Confira a entrevista ao final desta matéria.]

A destruição do outdoor e as ameaças recebidas pela comunidade motivaram a realização de um boletim de ocorrência. O caso também foi encaminhado ao Ministério Público e à Secretaria de Direitos Humanos (SEDPOP), que participa de rodas de conversa com representantes das religiões de matriz africana para discutir providências. “Até agora ninguém viu quem foi. A gente pergunta e ninguém sabe de nada. Ficamos de mãos atadas, esperando uma resposta que ainda não veio”, lamentou a ialorixá.

Além do preconceito histórico, os terreiros enfrentam abandono institucional. Mãe Ângela destaca que não há políticas públicas de proteção efetiva. “A gente vive à mercê. Não temos medidas protetivas. Quando acontece algo, rola, rola, termina em banho-maria. Lei tem muita, mas não protege”, desabafou.

O festejo de São Raimundo Nonato, que acontecerá entre os dias 30 de agosto e 3 de setembro, é um dos mais importantes da cidade e envolve atividades religiosas, culturais e sociais. “Temos um trabalho social grande no terreiro. Distribuímos quentinhas, brinquedos, fazemos novenas. O terreiro acolhe, canta e reza. Mas ainda assim nos chamam de bruxos, dizem que nossa casa fede”, disse a líder religiosa.

Além da mobilização pelo festejo, a comunidade planeja para novembro a primeira Caminhada do Axé em Bacabal, dentro da programação do mês da Consciência Negra. Na ocasião, será inaugurado um monumento dedicado a Oxum, orixá do amor e da fertilidade, doado pela prefeitura. “A gente tem medo até disso. Será que vão destruir também?”, questionou Mãe Ângela.

Para ela, o racismo religioso continua tão forte quanto no passado. “Eu sofro isso desde os 8 anos. Antigamente corriam atrás de mim, me chamando de macumbeira e feiticeira. Hoje mandam áudios e mensagens. Mudou a forma, mas a violência é a mesma”, afirmou.

Apesar das dores, Mãe Ângela não perde a esperança. “Peço a Xangô que nos defenda, que Oxum e Iemanjá nos protejam. Que esse povo que tem ódio no coração aprenda a amar. E convido todos para o nosso festejo. Nossa casa está de portas abertas para quem quiser conhecer nossa fé e nossa cultura.”

A entrevista completa com Mãe Ângela foi ao ar no programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor, confira abaixo.

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