Skip to main content

Fábrica de Artes completa 10 anos como símbolo de resistência cultural no Desterro

Fabrica das Artes: há uma década promovendo cultura e resistência no Desterro Imagem: acervo pessoal

Arte, educação e inclusão social se unem e pulsam há uma década na antiga Fábrica Oleama – agora, literalmente, a Fábrica de Artes. Localizada no bairro do Desterro, no Centro Histórico de São Luís, o movimento foi criado pela Associação Cultural Os Caras de Onça, e comemora seus 10 anos como símbolo de resistência cultural, com impacto direto na vida de jovens, mães e idosos da comunidade local.

Para celebrar a data, a Fábrica de Artes realiza no dia 23 de julho um evento especial, com café da manhã comunitário, roda de conversa, entrega de cestas básicas, feijoada e apresentações culturais, incluindo o tambor de crioula e o touro dominador dos Onças. A ação será aberta ao público, com atividades ao longo do dia, das 8h às 18h.

À frente do projeto está Mestre Preguinho, músico percussionista e mestre da cultura popular, que participou do programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor, na segunda-feira (14). Na entrevista, ele relembrou sua trajetória pessoal e o processo de construção do espaço, que surgiu como resposta à vulnerabilidade social do bairro e ao abandono do prédio da antiga fábrica, antes ocupado por usuários de drogas e marcado por violência.

Segundo Mestre Preguinho, a associação surgiu informalmente a partir de encontros de moradores mais velhos — os “coroas”, como ele recorda com carinho — que se reuniam para tocar e preservar tradições culturais. A chegada de jovens e lideranças comunitárias, incluindo ele próprio, fortaleceu a proposta e deu origem ao que viria a se tornar a Fábrica de Artes, com oficinas de tambor de crioula, bateria, dominador e outras linguagens culturais.

A ocupação do espaço, realizada coletivamente com apoio da comunidade, teve como objetivo transformar a realidade local. “A gente limpou, pintou e começou a fazer oficinas, ações sociais, atendendo mães, adolescentes, idosos. Conseguimos até reabilitar algumas pessoas que viviam em situação de rua e vulnerabilidade dentro do prédio”, relatou o mestre. A fábrica hoje é referência em cultura popular e educação comunitária.

“Um projeto como o nosso poderia estar alcançando muito mais gente se tivesse apoio contínuo do poder público, e não só na época do São João”, Mestre Preguinho

Mais que arte, o projeto promove cidadania. “Não é só tambor. É também formação, é educação, é ensinar o jovem a respeitar pai e mãe, a ajudar em casa. Muitos dos nossos meninos hoje estão trabalhando com cultura, ganhando seu pão tocando num bumba meu boi, numa escola de samba”, afirmou. O espaço ainda leva oficinas para escolas públicas, ampliando seu alcance para crianças a partir de cinco anos.

Apesar do reconhecimento social, o mestre destacou as dificuldades enfrentadas para acessar políticas públicas. “A gente tem toda a documentação em dia, mas mesmo assim é barrado em editais. Isso dói. Um projeto como o nosso poderia estar alcançando muito mais gente se tivesse apoio contínuo do poder público, e não só na época do São João”, desabafou. A manutenção do trabalho é sustentada, em grande parte, por apoios voluntários e doações locais.

Mestre Preguinho encerrou a entrevista com emoção. “Eu abri mão de muita coisa pra viver esse projeto. Hoje, com 37 anos, sem vícios e com a cabeça no lugar, só tenho a agradecer aos mestres que me formaram, à minha família, e a todo mundo que acredita que cultura é ferramenta de transformação”, afirmou.

📺 Confira a entrevista completa no programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor.

Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x

Acesso Rápido

Mais buscados