Moradores do Assentamento Sapucaia, localizado na cidade maranhense Vila Nova Dos Martírios, a 662 km da capital, denunciam que a empresa Suzano Papel e Celulose estaria tentando expulsar à força mais de 500 famílias que residem neste local.
Após uma Ordem de Despejo a favor da empresa, expedida há um mês pela justiça do município, muitas famílias foram pegas de surpresa com essa decisão judicial.
De acordo com relatos dos denunciantes, a Suzano teria invadido a região para desmatar e plantar mais eucalipto, atividade que não gera renda para os moradores e nenhum benefício para a natureza.
As famílias vivem na localidade há pelo menos 40 anos e tiram seu sustento principalmente da agricultura familiar.
O Jornal Tambor de quinta-feira (19/12) entrevistou Raimunda Vieira e Hermenegildo Silva, moradores do assentamento.
(Veja, ao final deste texto, a íntegra da entrevista de Raimunda e Hermenegildo)
Dona Raimunda disse que está triste e preocupada com essa ordem de despejo. Ela não tem para onde ir com seus filhos e netos, caso aconteça o despejo.
“Toda a nossa vida está aqui, a gente tira nosso pão de cada dia dessas terras. Todo mundo aqui tá desesperado com tudo isso. Essa empresa não tem coração, estamos vivendo aqui há muito tempo”, afirmou a trabalhadora rural.
Seu Hermenegildo declarou que a Suzano “não sente dó de ninguém” e que ela “ameaça e destrói por onde passa”.
O morador falou que todas as famílias estão pedindo uma ajuda do Poder Público, porque já não sabem mais a quem recorrer.
O outro lado
A Suzano reafirma ser a real proprietária do imóvel denominado Fazenda Jurema já tendo apresentado todos os documentos que comprovam a sua posse e propriedade nos autos do processo judicial em que, inclusive, já foram reconhecidos os direitos da Suzano e, ainda, sua legitima posse e propriedade (inclusive pelo próprio INCRA-MA).
O imóvel é objeto de processo de reintegração de posse com decisão definitiva (validada pelo Tribunal do Maranhão e transitada em julgado) desde 2014 (há mais de 10 anos), de forma que a invasão existente desrespeita decisões judiciais que já reconheceu a ilegalidade da invasão.
Importante mencionar, ainda, que a área invadida faz parte de uma reserva legal considerada de Alto Valor de Conservação (AAVC), havendo no processo evidências de desmatamento, queimadas e furto de madeira nativa, causando danos significativos ao meio ambiente e às comunidades do entorno.
A empresa reforça que cumpre rigorosamente a legislação brasileira e continuará conduzindo suas atividades econômicas para contribuir com o desenvolvimento sustentável do país e do Estado do Maranhão.
Após a retomada da posse de sua propriedade, a Suzano realizará um trabalho de recuperação dos danos causados, assegurando a preservação da área de reserva, que não será destinada para o plantio de eucalipto no estado do Maranhão. Assim que obtivemos uma resposta essa matéria será atualizada.
(abaixo a edição do Jornal Tambor, com a entrevista completa de Hermenegildo)