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Entrevista com Odair José: “O meu trabalho é feito para divertir, mas também para refletir”

Foto: Bernardo Guerreiro

Neste sábado, 7 de dezembro de 2024, o lendário cantor Odair José tem um encontro marcado com a cidade de São Luís, na Feira da Agricultura Familiar (FEMAF), localizada na Lagoa da Jansen, próximo à Concha Acústica. Ele será a principal atração de uma programação prevista para começar às 19h.

O jornalista maranhense Paulo Vinícius Coelho realizou uma entrevista exclusiva com esse grande nome da música. O conteúdo foi publicado no blog A Sociedade do Copo, uma plataforma dedicada ao jornalismo e à manifestação cultural. A Agência Tambor reproduz, a seguir, a entrevista de Paulo com Odair.

Leia abaixo:

Foto: Bernardo Guerreiro

Paulo Vinícius Coelho: Odair, eu já acompanhei diversas entrevistas suas para veículos de diversos portes e sempre te achei muito solícito. Você gosta de conceder entrevistas?

Odair José: Eu acho que é minha obrigação falar com as pessoas. Eu às vezes me preocupo se eu não vou ficar me repetindo nas entrevistas, mas aí vai depender muito de quem me pergunta as coisas. A entrevista às vezes sai melhor porque depende muito de quem está te perguntando. Eu acho que é obrigação minha atender as pessoas porque o meu trabalho passa por esse tipo de coisa. Por outro lado, eu gosto de ser questionado, eu gosto de explicar, eu gosto até de contestar determinadas coisas porque eu ainda estou podendo falar de mim. Então, quanto mais eu puder explicar para as pessoas quem é o Odair José e de que forma ele trabalhou e de que forma ele está trabalhando, de que forma ele está vendo a vida, eu vou sempre dar atenção para vocês e agradecer até pelo interesse em falar comigo.

Paulo Vinícius Coelho: Para além da música, você tem relação com outros tipos de arte? Você gosta de ir ao cinema, de ler…?

Odair José: Eu sou uma pessoa, desde os meus sete anos de idade, ligada à arte. Especificamente à música. Eu toco desde os meus sete anos. Meu primeiro instrumento foi um cavaquinho, que eu tenho até hoje.

Depois veio o violão, veio a guitarra, veio o piano, e veio uma série de coisas. Minha ligação maior é com a música. Me descobri compositor ainda muito cedo, com 13 para 14 anos. Mas a minha ligação com a arte é infinita.

Eu não sabia, por exemplo, a admiração que eu poderia ter pela pintura. Mas em determinado período, final de 1972, eu fui passar um tempo em Londres, uns meses em Londres, e aí eu tive a oportunidade de ir na Europa, de visitar museus e dar de cara com quadros de pintores assim, fora do tempo, aquelas coisas tipo Michelangelo, tipo Leonardo da Vinci, e fui descobrindo a pintura. E você vai descobrindo a arte e suas formas de representação.

Tive muitos amigos artistas, fui muito a teatro, gostava muito de ir a teatro. O cinema também, mas hoje em dia a gente não vai mais ao cinema, praticamente. A última vez que eu fui assistir um filme, foi o do Tim Maia, porque ele tocava uma música minha (Nunca Mais) e eu fui assistir para saber como é que era e o que é que estavam falando do meu amigo Tim Maia.

Mas eu assisto muito filmes nas plataformas, nos streamings, sabe? Eu vejo filme direto. O teatro faz tempo que eu não vou. Tem o circo também. Eu sempre admirei muito a arte circense.

De um modo geral, eu gosto da arte. Viver já é uma arte. O maior palco que nós temos é o palco da vida. Viver é uma arte. Todo dia, a todos os momentos, você está vivendo uma cena, você está representando uma coisa, seja às vezes uma dramaturgia ou seja às vezes uma comédia. A vida é uma arte. Costuma-se dizer que a arte imita a vida e a vida imita a arte.

Paulo Vinícius Coelho: Sim. Tem uma frase do Nietzsche que diz que sem música a gente não viveria. Eu quero te perguntar, a partir disso, o que é que você gosta de ouvir? Tenho muita curiosidade para saber.

Odair José: Olha, eu sei que a gente tem um gosto, todo mundo tem um tipo de música, todo tipo de artista que bate mais com o gosto dele. Isso é uma identificação. E eu também sei que quando você diz “ah, eu sou eclético, eu gosto de tudo” as pessoas não gostam muito, porque quem é eclético não gosta de nada, na verdade.

Mas eu discordo. Por exemplo, em 73 eu estava num evento com o Gilberto Gil e alguém fez uma pergunta para ele e naquele momento ele respondeu o que eu vou te falar agora sobre música.

Perguntou sobre a música no Brasil. Ele falou “No Brasil tem vários estilos de música e eu prefiro todos”. Eu faço da colocação de Gilberto Gil a minha. Eu prefiro todo tipo de música. Agora, como eu te disse antes, a gente tem alguns estilos e alguns artistas que você se identifica mais.

No meu caso específico, por exemplo, eu sou um cara que ouço rádio desde os sete anos. Desde que me entendo por gente, eu escuto rádio. Então, as minhas referências musicais vêm muito do rádio. E no rádio tocava de tudo, Paulo. Você acabava de ouvir Beatles, você ouvia Luiz Gonzaga. Você acabava de ouvir Luiz Gonzaga, você ouvia Frank Sinatra. Você ouvia Tom Jobim, você ouvia João Gilberto, você ouvia Roberto Carlos. Era tudo uma mistura. Então, você ouvia música italiana, você ouvia a boêmia, você ouvia a velha guarda, a jovem guarda, você ouvia as músicas americanas, as músicas lá da Europa, como Beatles, Rolling Stones e outros mais.

Então, eu tenho uma predileção com esse pessoal. É mais Beatles, mais Rolling Stones. Eu sou da época de Elvis Presley, mas a partir de Beatles e Rolling Stones, eu falei “eu fico por aqui, eu gosto desse tipo de música”. Mas, no Brasil, eu gosto de tudo.

Como é que você pode dizer que não gosta do trabalho de um Tom Jobim, do trabalho de um Chico Buarque, do Caetano Veloso?

Mas, para não ficar perdido, outro dia eu falei “quer saber, eu vou ouvir todos esses caras que estão fazendo sucesso.” Uma semana ouvindo todo mundo, para saber o que eles faziam. Para saber e para ter uma opinião sobre o que eles estavam fazendo. Então, eu tenho sempre esse tipo de curiosidade. Mas, volto a te dizer, a gente tem aquelas preferências. E as minhas preferências estão mais paradas lá nos anos 70.

Paulo Vinícius Coelho: Bom, daí, uma coisa curiosa sobre essa entrevista, é que eu e os colegas que depois vão me ajudar a editar esse material, somos cerca de 50 anos mais novos do que você. E mesmo assim, a gente acompanha a tua obra há muito tempo e gosta muito. Então, a gente ficou muito empolgado quando soube da possibilidade de ver o teu show aqui e de conversar contigo. Mas, eu estou te falando isso para perguntar o seguinte: Você acha que a sua obra já é intergeracional? Como é que você olha para o passado e pensa “poxa, minha música fez a cabeça daquela turma, está fazendo a cabeça da turma de hoje, será que vai fazer do futuro?” Como é que você vê essa temporalidade?

Odair José: Eu estou há 54, 55, para 54 anos gravando discos. Eu tenho 39 discos inéditos. 39 álbuns. Eu lancei agora um recente que é Seres Humanos e a Inteligência Artificial. O lance é assim: eu, de uns 10 anos para cá, eu passei a ver a minha obra de uma forma diferente. Talvez até mais de 10 anos. Porque, antes, na década de 70, quando eu apareci, porque eu fiz muito sucesso, a década de 70 foi praticamente a década do Odair José, porque eu vendi tudo que tinha que vender de discos. Só tocava Odair José em rádio, essas coisas todas.

Naquele momento, eu não tive como analisar muito aquele trabalho. Embora me analisasse profissionalmente. Eu sabia que eu não podia ficar repetindo fórmulas, que eu tinha que trazer coisas novas. Foi quando, inclusive, em 77, eu fiz o álbum “O Filho de José e Maria”, porque eu não queria ficar me repetindo.

Eu já estava há seis anos fazendo a mesma coisa. Falei “pô, eu estou ficando um repetidor de fórmulas. Eu não estou fazendo arte, eu estou fazendo negócio”. Quando eu comecei, eu era jovem como vocês. Eu tinha meus vinte e poucos anos. Eu quando compus e gravei “O Filho de José e Maria” em 77, eu tinha 28 anos. Então, eu era também muito jovem. E quando você é jovem, você escreve para jovem. Mas aí, passa-se o tempo e eu percebo hoje, 50 anos depois, que vocês que têm essa idade que eu tinha, na época que escrevi em 70, se identificam com as músicas.

Isso me dá uma alegria muito grande como compositor, como profissional, porque diz para mim o seguinte: “cara, a minha música, ela foi, de uma certa forma, relevante”. E eu acho que não existe música pior ou melhor. Existe música mais bem feita e música menos bem feita. E essa música mais bem feita e menos bem feita não passa por uma harmonia complicada, não passa por uma poesia que ninguém entende. Passa por você fazer uma música que dura 50 anos.

Eu tenho uma série de músicas minhas que me dão muita alegria porque duram 50 anos. Tenho também a consciência, a certeza, de que por uns 20 anos eu fiz uns trabalhos muito fracos. Durante os anos 80 e anos 90, eu acho meu trabalho muito fraco. Eu estava totalmente, sabe, desatento ao que eu estava fazendo. Então, desses 39 discos, eu acho que eu tenho uns 20 realmente muito bons.

Mas, voltando ao tema, eu fico feliz porque de 10 anos pra cá é muito comum eu encontrar jovens nos shows. Às vezes eu cruzo no aeroporto com jovens. Recentemente, esse ano, eu fui fazer um show em Fortaleza e quando eu estava atendendo as pessoas no camarim entrou uma mulher de uns 40 anos e pensei que ela quisesse falar comigo.

Ela estava acompanhada da filha, que tinha 15. Ela virou pra mim e disse assim “olha, tudo bem, conhecer você é um prazer, mas eu vim trazer minha filha porque minha filha disse pra mim o seguinte: ou me leva pra ver o show do cara, ou eu vou sozinha. Eu vou porque eu quero conhecer o cara que fez o disco do filho de José Maria” [em alusão ao álbum O Filho de José e Maria, lançado por Odair José, em 1977].

Ela tinha 15 anos. Isso nos últimos 10 anos acontece muito comigo. Entra um cara no camarim, mas acompanhado do filho, que é quem realmente quer falar. Então eu percebo uma alegria muito grande. Então, com respeito, se uma música já tem 50 anos e as pessoas ainda a ouvem, é porque ela superou o tempo e a mensagem dela ainda é positiva pro momento.

Tem isso também, viu, Paulo? Eu sempre tive uma preocupação em fazer música falando sobre aquilo que eu vejo, sobre aquilo que eu observo. Eu mais escrevi sobre aquilo que eu via do que sobre aquilo que eu sentia. E quando você faz esse tipo de trabalho, às vezes acontece que você tem esse privilégio de, 50 anos depois, a coisa tá se repetindo e a música ainda é positiva. Eu tenho uma pessoa jovem que falou outro dia sobre “O filho de José Maria”: – Esse trabalho só vai ser entendido daqui a 50 anos. Eu falei: – Pô, mas ele já tem quase 50 anos, ou melhor, 47 [anos]. Eu tô com 76 anos; eu não sei até quando vou viver, Paulo, mas aí o futuro é com vocês. Espero que daqui a 20 anos, quando eu não estiver mais aqui, vocês ainda escutem as minhas canções.

Paulo Vinícius Coelho: Odair, você certamente está acompanhando a discussão sobre a rentabilidade dessas plataformas de música e você é um cara que gosta muito do palco, que gosta muito de show. Então eu queria te perguntar como é que você vê essa questão das plataformas, e se você acha que os shows ainda são o carro-chefe, e que ainda são muito importantes pra carreira do artista ou o streaming tá tomando conta mesmo?

Odair José: Veja bem, eu não sei até onde eu vou a nível de vida, quantos anos eu ainda vou trabalhar, mas enquanto eu tiver condições físicas para poder me movimentar e fazer a coisa com essência, eu vou estar em cima dos palcos trabalhando.

Agora, em respeito às plataformas, as coisas mudaram muito. Eu falei pra você que eu tô há 55 anos, 54 anos trabalhando com disco, com música profissionalmente. Eu passei por várias décadas e tô acompanhando as coisas mudando, mudando, mudando… Há 20 anos, exatamente 20 anos atrás, uma pessoa chegou pra mim, um jornalista, e disse pra mim: – você tá ligado no negócio da internet?

Eu falei: – como assim? ele respondeu: – se toca, presta atenção porque a internet vai mudar o mundo, e eu nem prestei atenção no que ele tava falando, não levei aquele assunto a sério e a internet mudou o mundo; a internet mudou tudo e, no caso da música, hoje, é muito confuso. Eu te confesso que, de uma certa forma, eu tenho minhas críticas. Às vezes, eu sei que isso é uma realidade, as músicas estão nas plataformas; as músicas estão nos aplicativos. Você não tem mais outro caminho, o caminho é esse.

Agora o que acontece é assim: eu acho que, de uma certa forma, por ser uma coisa muito solta, cada um faz do jeito que quer. A internet, as plataformas, os aplicativos, ficou uma coisa, na minha opinião, muito violenta: vai lá, faz um monte de coisa e aquilo acontece e as pessoas ligam. De repente, o cara tem 50 milhões de seguidores. Por isso que eu te falei que essa semana que passou eu tirei pra ficar olhando quem estava fazendo esses barulhos na internet.

Eu acho isso meio assustador. Uma hora eu acho que vai ter que ter uma definição. Por exemplo, você falou do palco. Eu não acho que as pessoas vão deixar de assistir o artista ao vivo, mas o show hoje em dia não é muito intimista.

Eu faço muito show em teatro, que é uma coisa intimista. Eu, agora, acabei de fazer seis teatros no Nordeste, todos lotados, porque as pessoas ainda querem ver o artista de perto. Não sei se as plataformas estão engolindo tudo isso, mas os shows hoje em dia não são mais shows. Você vai pra uma festa com 50 mil pessoas no lugar tal e a pessoa, na verdade, vai pelo evento.

Eu nem gosto de participar disso, desses eventos grandões. Eu acho muito impessoal porque a pessoa tá ali e não é pra ver o artista; é pra estar na festa. E isso nem é ser saudosista, porque eu realmente não sou, eu vivo do presente. Mas, eu acho que a coisa tem que ser melhor apreciada, melhor vista.

Não sei onde vai parar isso do streaming, mas eu acho que não é totalmente legal porque hoje em dia, por exemplo, o cara é ídolo da internet e não lança um disco. Ele lança uma faixa aqui, outra ali, faz um vídeo aqui…daqui a 30 anos esse cara não vai ter uma história junto com o fã, com o público dele. Quer dizer, isso tem que ser analisado, mas não sobra tempo, porque é muito violento.

Paulo Vinícius Coelho: Você tem uma obra muito extensa, você tem 39 discos lançados. Evidentemente, algumas músicas conseguem mais destaque do que outras e são sempre mencionadas. Você não fica pensando “poxa, mas tem essa música aqui que eu queria que tivesse chegado em mais gente, que tivesse feito tanto sucesso quanto Uma Vida Só ou Eu Vou Tirar Você Desse Lugar.” Você tem alguma música que pensa: essa eu queria que tivesse feito um pouquinho mais de barulho?

Odair José: Olha, eu tenho várias músicas que não fizeram barulho, que poderiam ter feito, que são tão fortes quanto essas aí. Acontece assim: na década de 70, quando eu tocava muito no rádio, as pessoas conheciam o disco inteiro. Eu devo ter umas 30 músicas que as pessoas cantam em todos os shows.

Agora mesmo eu acabei de lançar um disco que eu tenho certeza que se as pessoas tomassem conhecimento das músicas eles iam dizer “pô, esse disco é legal, essas músicas são boas, elas têm as mesmas qualidades que as outras”. Só que elas não vão chegar ao público porque elas não estão tendo a execução que outros clássicos tiveram.

Com respeito a esse negócio de uma música fazer mais sucesso que a outra, é uma escolha mais do público. Na época que o rádio era forte, às vezes eu pensava que uma música ia fazer sucesso e o programador escolhia outra que acabava fazendo mais sucesso.

Então, eu tenho muitas músicas excelentes, mas que passam despercebidas mesmo porque elas não tiveram execução nos meios de comunicação. E se não chegar até as pessoas, Paulo, aí elas ficam menores.

Paulo Vinícius Coelho: Odair, você às vezes, de maneira simplória, é colocado no mesmo grupo que artistas como o Fernando Mendes, o Márcio Greyck, a Diana, como se vocês fossem realmente um conjunto, fizessem parte do mesmo grupo. Vocês, nos anos 70 ou em algum momento, se reconheceram realmente como um grupo ou vocês só tinham afinidade temática? Existia algo que unia essas pessoas tão distintas?

Odair José: Eu acho que o artista, quando passa a compor um grupo, ele fica mais forte. Vou te dar um exemplo: hoje falam muito do cara que é do sertanejo. Você vai ver e o cara na verdade toca funk. Mas, quando você vai pra um nicho, você fica mais forte. O artista desunido é mais fraco.

Essas pessoas que você cita, Paulo, eu convivi com eles. A Diana, Fernando Mendes, Márcio Greyck, o Raul Seixas – com quem, inclusive, eu convivi no início da minha carreira. Outros já eram conhecidos, como Roberto Carlos, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso. Esses vieram antes, mas cada um trabalhando à sua maneira. Eu sempre acho que eu sou uma pessoa ligada a fazer músicas sobre outras pessoas. “Ah, o cara falou sobre o social, o cara falou da pílula’’. É porque naquele momento tinha que falar da pílula, da empregada. A empregada não era vista como um emprego, era uma coisa discriminada. Então, o meu trabalho passou mais por esse negócio de exclusão e de inclusão, de preconceito, de hipocrisia, por isso eu tive tanta dificuldade com a censura de Estado, tive tantas músicas censuradas e enfrentei dificuldades que esses colegas que você citou não tiveram. Mas nós realmente éramos um grupo.

Paulo Vinícius Coelho: É a sua primeira vez cantando em São Luís? Quais são suas impressões sobre a cidade?

Odair José: Paulo, com mais de 50 anos de carreira, eu já percorri o país inteiro, inclusive São Luís. Eu tenho muito respeito e admiração pela cultura do Maranhão, na capital e no interior, mas certamente mais em São Luís. É impossível passar batido pela cultura do Maranhão.

Paulo Vinícius Coelho: São Luís é uma cidade litorânea. Você nasceu no Centro-Oeste e mora há muito tempo em São Paulo. Você gosta de praia?

Odair José: Paulo, eu nasci em Morrinhos, numa cidade que fica próximo a Caldas Novas e outras cidades com banhos. Depois, por muito tempo, morei no Rio de Janeiro. Já faz algum tempo que eu moro em São Paulo, mas eu tenho uma relação muito forte com cidades litorâneas e inclusive as prefiro.

Paulo Vinícius Coelho: Odair, a gente tem aqui um quadro fixo de perguntas que a gente repete para todos os entrevistados, é na verdade uma espécie de brincadeira. Queria que você indicasse e contraindicasse alguma coisa, qualquer coisa.

Odair José: Olha, cara, isso é interessante. Teria que ser uma coisa pensada, mas eu acho que eu indicaria pra humanidade que ela fosse mais reflexiva a respeito de si mesmo. Eu acho que a humanidade não está refletindo sobre a sua própria existência, e quando você não reflete, não faz um reflexo sobre a sua própria pessoa, você termina não sendo interessante pra humanidade. Eu diria que talvez fosse interessante procurar ter mais conteúdo. E como você tem mais conteúdo? Buscando mais conhecimento, seja através da leitura, seja por meio de uma matéria de jornal, de uma arte, de qualquer coisa.

Eu sou de uma época em que a gente dizia “não deixa ninguém te influenciar, tenha sua personalidade própria”. Hoje em dia as pessoas são famosas por serem uma influência.

Eu diria para as pessoas procurarem ler, procurarem algo que tenha conteúdo e pra não ficarem caindo em conversa dos outros.

E a contraindicação seria praticamente a mesma coisa, no outro sentido. Quando, agora, eu fiz um disco sobre seres humanos e inteligência artificial [Seres Humanos e a Inteligência Artificial, 2024] foi pra bater nessa tecla do cuidado para não deixar a tecnologia engolir a sua vida.

Paulo Vinícius Coelho: Tem alguma coisa que você queira dizer pro público de São Luís que acompanha o teu trabalho?

Odair José: Que apareça no show, que nos desculpe se a gente não fizer o melhor e que é um prazer estar de volta à São Luís, essa ilha que, como dizia um amigo meu, é a ilha do amor.

Eu gostaria muito que o público, quando for me assistir amanhã no show, ou em outros shows, que procure, que tente entender o meu trabalho. O meu trabalho é feito pra divertir, mas também é feito pra refletir. Esse é o meu desejo: ter uma convivência com o pessoal do Maranhão, de São Luís, na forma de palco, na forma musical. Vai ser um grande privilégio estar aí.

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