Por Paulo Vinicius Coelho
Da Agência Tambor
08/06/2021
Nesta terça-feira (8) o Jornal Tambor recebeu a historiadora Greice Adriana Neves Macedo e o antropólogo Igor de Sousa. Eles trataram do artigo publicado na revista da ABPN – Associação Brasileira de Pesquisadores (as) Negros (as) – cujo título é ‘’Mulheres Negras e Não-Existência: Quebradeiras de Coco Babaçu e Reflexões Críticas Sobre o Mundo’’
(VEJA ABAIXO A ENTREVISTA)
De acordo com Igor, um dos objetivos do artigo é ressaltar a relação das quebradeiras de coco com as discussões sobre raça e a luta por território.
Ele afirma que o aspecto produtivo da atividade das quebradeiras é importante, mas também é preciso se ater a relação entre raça e gênero, o protagonismo das quebradeiras negras e a interlocução que elas praticam com outros povos tradicionais, como quilombolas e indígenas.
Greice também destacou o dever de inserir o debate sobre gênero nas discussões, afirmou que as quebradeiras estão entre as vítimas da necropolítica em vigor no Brasil e as classificou como ‘’as excluídas entre os excluídos’’.
Posteriormente, Igor complementou: ‘’quando dizemos que essas mulheres são as excluídas entre os excluídos, nós não estamos tentando fazer um ranking de opressão, estamos pontuando como a vida acontece e como as mulheres tem agido e resistido’’.
O antropólogo acrescentou que o trabalho também teve a finalidade de acompanhar as mulheres do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) para ‘’ver como elas enxergam o mundo’’ e como elas tem se posicionado, tentado criar vínculos com outras mulheres e outros movimentos para potencializar as lutas por território.
Igor denunciou ainda a ‘’hipocrisia da esquerda brasileira’’, reiterando que esse espectro político ‘’sempre trata raça como superficial. Finge que os projetos de país estão à revelia das discussões raciais’’ e advertiu ainda que ‘’só o recorte de classe não basta. Raça opera, raça cria assimetrias no dia-a-dia’’.
Greice, justificando o termo ‘’não-existência’’ utilizado no artigo, argumentou que ‘’o mundo branco, que detém o poder, nos coloca na base da pirâmide, nos enxerga a partir de um não-direito, de uma negação das nossas existências.’’
Segundo Igor, ‘’as quebradeiras nos auxiliam a perceber a magnitude das mulheres e a luta das mulheres racializadas. Elas são a ponta de lança numa discussão muito importante sobre gênero, raça e território’’.
O antropólogo reforçou a necessidade de ‘’levar a sério a raça, se não o debate vai ser sempre um debate de gabinete. Ou a gente leva a sério quem constrói esse país e quem morre por esse país, ou vai ser sempre um debate com pretensões elitistas’’.
Igor e Greice fizeram questão de lembrar uma citação do discurso da quebradeira de coco Rosenilde Gregória na Marcha das Margaridas que diz ‘’não me venham com essa história de ‘ninguém solta a mão de ninguém’, porque ninguém nunca pegou na minha mão’’.
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