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Súcia de José Sarney! Assembleia Legislativa tenta fraudar história

Ustra foi nomeado por José Sarney | Foto: Divulgação

O coronel Brilhante Ustra foi nomeado, pelo então presidente da república José Sarney, para o cargo de Adito Militar no Uruguai. Isso foi em meados da década de 1980.

Em seguida, ainda com Sarney na presidência, Ustra foi transferido para um cargo no Estado Maior do Exército, em Brasília.

Ustra comandou a tortura de presos políticos. Ele era um dos muitos que fazia o serviço sujo durante a ditadura militar, implantada no Brasil em 1964. Ustra chegou a torturar crianças e mulheres gravidas. Ele também comandou sessões de estupro.

O nível de perversidade, em vários cantos do Brasil, foi muito além do absurdo. Foram sequestros, assassinatos, ocultação de cadáver, além da tortura física e psicológica.

Toda essa violência e covardia da ditadura era do conhecimento de políticos e militares, que ficaram impunes. Ustra foi o único condenado pela Justiça.

O padre José Antônio Monteiro, a médica Maria Aragão e o trabalhador rural Manoel da Conceição estão entre os maranhenses que foram presos e torturados, a partir de 1964.

No lado oposto, o oligarca José Sarney foi o maranhense que mais apoiou e foi apoiado por esta mesma ditadura.

Os maranhenses José Antônio Monteiro, Maria Aragão e Manoel da Conceição foram torturados pela ditadura militar.

Autoritarismo, máfias e “literatura”

Sarney chegou ao governo do Maranhão, em 1966, graças ao amparo que recebeu da ditadura. Sem o enorme suporte dado pelos militares golpistas, ele jamais teria sido governador.

A cumplicidade avançou e chegou ao ponto de José Sarney, já como senador, torna-se presidente nacional da ARENA, o partido criado para dar sustentação ao regime ditatorial.

Antes, quando surgiu a pequena e corajosa resistência no Congresso Nacional, Sarney já esteva entre os parlamentares mais subservientes, atuando como um dos líderes dos governos militares no Senado.

Foi nesse mesmo ambiente de profundo autoritarismo que José Sarney assumiu, no Maranhão, o comando da oligarquia local.

Instalado no governo estadual, ele começou a organizar e liderar máfias que passaram a operar em todas as esferas da máquina pública.

O ditador Castelo Branco garantiu a chegada de Sarney no governo do Maranhão

Vale registrar que foi exercendo a presidência do partido da ditadura que Sarney viabilizou uma vaga na Academia Brasileira de Letras, que poucos anos antes havia eleito um general.

Durante o naufrágio

Este rápido registro histórico é para denunciar a recente homenagem que a Assembleia Legislativa do Maranhão fez para José Sarney.

Na cerimônia, a súcia de Sarney reforçou uma mentira que vem sendo dita há vários anos, pelo Brasil a fora.

A claque da oligarquia maranhense fez coro para dizer que “o maior legado” de Sarney foi contribuir para “restabelecer a democracia” no Brasil.

Não é verdade. Trata-se de uma fraude grosseira da História. Não existe nenhum “legado de Sarney em favor da democracia”. O grupo dele fez foi atrasar o processo.

O ditador Costa e Silva, que instituiu o AI-5, com seu aliado José Sarney

“Quando um navio começa a afundar, os ratos são os primeiros a abandonar a embarcação”.

O antigo ditado ajuda a explicar o que ocorreu na relação entre Sarney, seu grupo e a ditadura; quando os militares foram obrigados a deixar o poder.

Fracasso brasileiro

Foi a desastrosa transição feita no governo Sarney que resultou em Bolsonaro presidente, em 2018. Quando os militares entregaram o poder para os civis, já começou a ser chocado um novo ovo da serpente.

A “transição democrática” no Brasil fracassou, porque seus protagonistas foram simplesmente os agentes da ditadura.

Sarney só entrou no jogo da transição porque o regime militar impediu que o primeiro presidente eleito, após as duas décadas de ditadura, fosse escolhido pelo voto direto.

Não teve eleição para presidente. Na chamada “transição democrática”, não teve participação da sociedade. O povo seguiu sendo impedido de votar.

E foi por mais essa violência que os chamados “filhotes da ditadura” puderam interferir, prejudicando o processo que foi imaginado para ser de redemocratização.

As “cartas do jogo” não foram entregues nas mãos da sociedade. Elas saíram dos quarteis e foram levadas para dentro do Congresso Nacional.

No parlamento, a maioria era do partido da ditadura, a turma que vinha da ARENA, gente ligada a Antônio Carlos Magalhães, Marco Maciel e José Sarney.

José Sarney cumprimenta o general Garrastazu Médici, o ditador que mais promoveu a tortura.

O fracasso agora ficou bem evidente quando um tipo como Bolsonaro se elege presidente, com seus filhos vestindo camisas com a foto de Ustra, afirmando que um torturador foi herói nacional.

Diretas Já e a frustração

O site da Câmara Federal registra atualmente que “o dia 25 de abril de 1984 ficou marcado na história brasileira. Era para ser de festa, mas o país foi dormir frustrado e revoltado”.

A frustração e a revolta são porque entre os anos de 1983 e 1984 houve um enorme movimento político no Brasil chamado de Diretas Já. Foi uma campanha que queria a volta das eleições para presidente do Brasil, no ano de 1985.

Estávamos no fim do governo do General João Batista Figueiredo. Os militares, desmoralizados na opinião pública, não queriam eleição.

Uma emenda constitucional foi apresentada em 1983, propondo eleição para Presidente da República. E a Campanha das Diretas realizou enormes comícios pelo Brasil a fora.

Mas a ditadura ainda mantinha a maioria do Congresso Nacional, graças a uma sucessão de golpes, cassações e eleições manipuladas, ocorridas desde a década de 1960.

Sendo assim, o partido do regime militar, ainda sob a presidência de José Sarney, determinou que sua bancada votasse contra a aprovação da emenda que permitiria a eleição direta.

José Sarney e o ditador João Batista Figueiredo, os dois trabalharam contra a realização de eleições diretas no Brasil.

A votação ocorreu no dia 25 de abril de 1984 e a proposta de eleição foi derrotada, gerando frustração e revolta.

Os deputados e senadores seguiriam elegendo o Presidente da República e seu vice, da mesma forma que vinha ocorrendo na ditadura militar.

Tancredo foi o escolhido, eleito no Congresso Nacional para presidente, sem o voto do povo brasileiro. José Sarney foi indicado vice. Tancredo adoece, não toma posse, morre e Sarney assume a presidência.

História e democracia

Quem derrubou a ditadura no Brasil foi a opinião pública, após uma longa resistência social que atravessou as décadas de 1960, 1970 e 1980, tendo a participação de muitas pessoas e organizações.

Foi uma luta feita com muita dor, suor, sangue, lágrima, medo, coragem, dignidade.

Filho de Bolsonaro com a imagem de Ustra na camisa, o mesmo Ustra nomeado no governo de José Sarney.

Trata-se de uma delinquência pisar sobre a memória de pessoas como José Antônio Monteiro, Maria Aragão, Manoel da Conceição.

É inadmissível associar o nome de notórios criminosos, com a luta honesta da nossa gente, a luta pela verdadeira democracia.

Ideias e práticas

O Brasil viveu dias terríveis, a partir da década passada. Nossa frágil democracia foi novamente ameaçada.

A fraude da história está ligada a esta nova coação, quando milhares de pessoas no país dizem hoje que não teve ditadura no Brasil.

Sarney e Bolsonaro são resultado da mesma ditadura. Ambos são hediondos. A embalagem pode ser bem diferente. Mas o conteúdo é o mesmo.

Eles representam um projeto antidemocrático, fascistoide, profundamente violento e patrimonialista. As ideias que eles carregam representam a negação de qualquer possibilidade de democracia e liberdade.

José Sarney e Jair Bolsonaro, frutos da mesma ditadura

Essa é a verdade. E se uma mentira repetida várias vezes pode fraudar a verdade, só nos resta dizer e repetir a verdade quanta vezes for necessário. Não podemos permitir que a mentira prevaleça

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Bartolomeu Mendonça

Texto lúcido e fiel a verdade da luta pela democracia. Parabéns!


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